terça-feira, 13 de julho de 2010

"Noventa milhões em ação..." - Final

Apesar da minha última postagem sobre a Copa do Mundo de Futebol masculino ser apenas sobre as oitavas de final, devido a um prolongado problema com minha conexão com a internet, e a ansiedade dos clássicos da oitava rodada do Campenato Brasileiro como Palmeiras X Santos e Flamengo X Botafogo, considero importante concluir as reflexões que iniciei sobre esse campeonato mundial.

Primeiramente parabéns ao time espanhol, que teve como característica mais importante não a "fúria" na vitória contra a forte seleção da Holanda, mas a capacidade de superação que demonstrou ao longo da competição. Sendo um campeonato curto, um campeonato de apenas sete jogos, sendo três classificatórios e quatro eliminatórios, não são necessariamente campeões os melhores times, ou os mais bem preparados, mas os times mais motivados. No início de cada um dos capítulos do maravilhoso livro "Guerra e Paz" do escritor russo Leon Tolstói, o autor escreve sobre sua concepção de história considerando as duas invasões das tropas napoleônicas à Rússia, a primeira em 1808, retratada com um tratado de paz entre Napoleão Bonaparte e o czar Nicolau II, e a segunda em 1812 que levou à derrota do corso francês. Tolstói escreve e Benício Del Toro enquanto Ernesto "Che" Guevara resgata no filme de Steven Soderbergh "Che - parte um" (2008) :

"Na guerra, a força das tropas é realmente o produto das massas, mas multiplicado
por uma incógnita x.

A ciência militar, ao encontrar na história numerosos exemplos em que a massa dos
soldados não coincide com a sua força real, pois pequenos destacamentos vencem por
vezes grandes concentrações de tropas, admite confusamente a existência desse
multiplicador desconhecido e procura descobri-lo, quer na construção geométrica de um
plano, quer na superioridade do armamento, quer, mais geralmente, no génio dos chefes.
Mas os resultados obtidos por estes diversos multiplicadores estão longe de poderem
explicar os factos históricos.

Basta, porém, renunciar a atribuir importância, como em geral acontece, para agrado
dos heróis, às disposições tomadas pelo alto comando durante uma guerra, para se
descobrir, finalmente, essa famosa incógnita.

Este x é o moral das tropas, isto é, o desejo mais ou menos vivo de os homens de
que se compõe o exército se exporem ao perigo, independentemente da questão de
saberem se se batem sob as ordens de um génio ou não, em duas ou três linhas, ou com
cacetes ou espingardas capazes de disparar trinta tiros por minuto. Os que tiverem o desejo
mais vivo de se bater serão os que se encontram nas condições mais favoráveis para a luta.

O moral das tropas, eis o multiplicador da massa cujo produto é a força. Precisar e
definir o valor do moral, esse multiplicador desconhecido, eis o que a ciência da guerra tem
de fazer."

Mais do que apenas uma teoria de história, Tolstói procura determinar as causas que explicam o curso dos eventos no tempo, ainda que para isso se utilize de uma dialética francesa iluminista para minorar a habilidade militar de Napoleão Bonaparte contra sua amada Rússia. Como historiador não acredito em qualquer subterfúgio que determine o curso da história, ainda que a própria história seja capaz de ajudar a compreende esse curso, mas especificamente para o caso da Copa do mundo de Futebol masculino, sobretudo para essa 20ª edição, a explicação de Tolstói me parece bastante esclarecedora para uma copa em que os times estavam homogeneizados pelo chamado "futebol de resultados" e os treinadores europeus na grande maior parte dos selecionados.

Mas afinal, como explicar o sucesso da Espanha nessa Copa do Mundo? Sem dúvida à capacidade de seu técnico Vicente Del Bosque que na minha opinião venceu a Copa ao vencer o esquema tático alemão, sem dúvida o melhor time nos gramados da África, mas sobretudo, ao que Tolstói nomeia de "incógnita x". Assim como Alemanha e Holanda, também a Fúria tinha TODOS os seus jogadores em times do próprio país, ou seja, a importância da conquista do mundial não era apenas um discurso nacionalista forjado ideologicamente de quatro em quatro anos de que este "é um país de todos", seja para eleições, seja para Copa do Mundo, que muito apropriadamente coincidem no mesmo ano no Brasil.

Não concordo com a responsabilidade que a mídia atribuiu covardemente à Felipe Melo pela derrota brasileira para a vice-campeã mundial de 2010. Penso que deve-se vencer e perder enquanto time, ainda que alguns jogadores tenham mais ou menos responsabilidade pelos resultados obtidos, isso demonstra que a cultura futebolística brasileira ainda é a cultura da individualidade em detrimento da coletividade. De qualquer maneira, a declaração de Felipe Melo de que desconhece as imagens da seleção brasileira na Copa de 1970 demonstra qual povo brasileiro a seleção está representando, um povo brasileiro do qual apenas "ouvem falar", mas "nunca viram".


Fonte: http://ficaquietinho.wordpress.com/2010/07/
Legenda: o lgo que poderia ter sido... As mãos do logo oficial parecem um mal presságio

Como sintetizou de forma impagável o jornalista Tutty Vasques: "O Brasil não pode faturar a Copa de 2010, mas ainda pode superfaturar a Copa de 2014"

Vocês vão ter que me engolir!

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