Lembrança
Todos os que estão neste cinema agora,
Neste cinema alegre,
Um dia hão de morrer também:
Nos cabides as roupas dos mortos
penderão tristemente.
Os olhos de todos os que assistem
as fitas agora,
Se fecharão um dia trágica e dolorosamente.
E todos os homens medíocres
se elevarão no mistério doloroso da morte.
Todos um dia partirão —
mesmo os que têm mais apego às coisas do mundo:
Os abastados e risonhos
Os estáveis na vida
Os namorados felizes
As crianças que procuram compreender —
Todos hão de derramar a última lágrima.
No entanto parece que os freqüentadores deste cinema
Estão perfeitamente deslembrados de que terão de morrer
— Porque em toda a sala escura há um grande ritmo de esquecimento e equilíbrio.
Augusto Frederico Schmidt, publicado em "A poesia fluminense no século XX", FBN/Imago/UMC, 1998.
terça-feira, 26 de abril de 2011
segunda-feira, 25 de abril de 2011
sábado, 23 de abril de 2011
Citações
"Saudade de um tempo? Tenho saudade é de não haver tempo"
Dito de Tizangara, Mia Couto em "O Voo do Flamingo"
Dito de Tizangara, Mia Couto em "O Voo do Flamingo"
sexta-feira, 22 de abril de 2011
Mémoires du Cinemà - Solomon Kane (Solomon Kane) - 2009
Ficha técnica: http://www.imdb.com/title/tt0970452/

Fonte: http://www.blogomatic3000.com/2010/02/19/solomon-kane-interactive-video-widget/
Autoria reprodução
Claro que comentar positivamente um filme retratando um caçador de demônios vestido como um peregrino inglês do século XVII não é exatamente o que pretendo fazer nessa postagem. A ideia dessa postagem surgiu quando ontem, assisti ao filme "Solomon Kane", indicação de um de meus estudantes (que também recomendou efusivamente outro chamado "Em nome do rei", aos que assistiram sabem a que qualidade de filme me refiro).
Talvez para me aproximar de futuros ex-alunos, resolvi assistir e diante dos filmes que estou habituado me decepcionei bastante com "Solomon Kane", porém, deixando de lado o filme em si uma importante reflexão me chamou a atenção quando fui me deitar ontem a noite: o filme trata de um tema bastante comum à mitologia cristã, a redenção. A personagem principal, Solomon Kane (interpretada por James Purefoy, muito parecido nesse papel com Christopher Lambert de "Highlander"), um caçador de recompensas, se arrepende de seus pecados e refugia-se na religiosidade de um mosteiro, porém, ao ser expulso do santuário, pois o monge superior tem estranhos sonhos indicando Kane não mais pertence a aquele local, o caçador de recompensas percebe que a redenção de seues pecados não ocorrerá através da renúncia da violência como imaginou ao se isolar, e volta a uma vida de assassinatos para encontrar sua paz interior.
Sem dúvida a temática aprofundada é muito mais interessante do que a maneira que o diretor a apresenta no filme, até porque este deve ter alguma rentabilidade, mas para além dos efeitos especiais, essa temática de redenção é extremamente marcante para adolescentes que tenham assistido ao filme. Ao me deitar enquano apanhava um livro para ler pensei o que se passa na cabeça desse estudante para assistir e gostar tanto do filme e me lembrei de filmes que marcaram minha adolescência, de longe o principal foi Karate Kid II.

Fomte: http://www.diegoc.com.br/wp/karate-kid-2010/karate-kid-03806/
Autoria reprodução
Ainda escreverei com calma sobre esse assunto que me fez refletir tanto nos últimos tempos, mas ainda que familiares influenciem diretamente nossa formação, ainda que professores influenciam diretamente a nossa formação, ainda que existam muitas variáveis que ajudam a explicar quem somos hoje, uma das que permanece mais ignorada sobretudo para os ramos da psicologia, é a mídia. Não quero dizer com isso que a mídia tenha um papel determinante na formação do indivíduo, mas é preciso levar em consideração a importância dos meios de comunicação sobre as pessoas, sobretudo durante sua formação, pois muitas vezes os valores transmitidos por pais e professores são impostos e por isso assimilados com o sentimento predominante de desprazer, enquanto os valores impostos pela mídia são assimilados com prazer pelo simples fato do adolescente poder escolher o que irá assistir ou escutar. Assim a questão passa a ser ainda mais complexa.
Vou usar um exemplo pessoal do filme Karate Kid II. Os anos 90 devido à abertura econômica e cultura pós-ditadura promovida pelas eleições diretas no Brasil, foram anos em que as artes marciais eram um potente instrumento da mídia, talvez pelo impacto visual de violência nas telas de televisão, talvez pelo fim da Ditadura Militar e a Guerra Fria quando as pessoas viviam sob uma violência militar explícita nos porões do DOPS ou uma violência igualmente fria, como a possibilidade de uma terceira guerra mundial; o fato é que os grandes ícones da minha infância e adolescência foram Jaspion, Changeman, Black Kamen Rider, Street Fighter, Mortal Kombat e Cavaleiros do Zodíaco, além de tantos otros que se não violentos em si, incorporaram a violência em suas atividades como Michael Jackson no álbum "Black or White" (1991) no clipe da música homônima em que Jackson destrói um carro.
Contudo, a violência muitas vezes era carregada de mensagens postitivas como o que acontece em Karate Kid II: Daniel Sam luta pela honra de Kumiko que foi agredida por Choze. Não que lembrasse de todos estes detalhes, mas a honra que Daniel defende foi marcante para mim e esse valor de alguma maneira fio incorporado; a trilha sonora de Peter Cetera é o auge.
Peter Cetera - Glory Of Love
Tonight it's very clear
As we're both lying here
There's so many things I wanna say
I will always love you
I would never leave you alone
Sometimes I just forget
Say things I might regret
It breaks my heart to see you crying
I don't wanna lose you
I could never make it alone
I am a man who will fight for your honor
I'll be the hero you're dreaming of
We'll live forever knowing together
That we did it all for the glory of love
You keep me standing tall
You help me through it all
I'm always strong when you're beside me
I have always needed you
I could never make it alone
Just like a knight in shining armor
From a long time ago
Just in time I will save the day
Take you to my castle far away
I am a man who will fight for your honor
I'll be the hero you're dreaming of
Gonna live forever knowing together
That we did it all for the glory of love
We'll live forever
Knowing together
That we did it all for the glory of love
We did it all for love
Hoje percebo quanto claramente esse filme marcou minha própria concepção de vida e me pergunto como a geração de meus futuros ex-alunos, cada vez mais à mercê da mídia através da internet assimila essas ideias, afinal, o que querem os sociopatas que entram atirando em escolas e depois se matam senão redenção?

Fonte: http://www.blogomatic3000.com/2010/02/19/solomon-kane-interactive-video-widget/
Autoria reprodução
Claro que comentar positivamente um filme retratando um caçador de demônios vestido como um peregrino inglês do século XVII não é exatamente o que pretendo fazer nessa postagem. A ideia dessa postagem surgiu quando ontem, assisti ao filme "Solomon Kane", indicação de um de meus estudantes (que também recomendou efusivamente outro chamado "Em nome do rei", aos que assistiram sabem a que qualidade de filme me refiro).
Talvez para me aproximar de futuros ex-alunos, resolvi assistir e diante dos filmes que estou habituado me decepcionei bastante com "Solomon Kane", porém, deixando de lado o filme em si uma importante reflexão me chamou a atenção quando fui me deitar ontem a noite: o filme trata de um tema bastante comum à mitologia cristã, a redenção. A personagem principal, Solomon Kane (interpretada por James Purefoy, muito parecido nesse papel com Christopher Lambert de "Highlander"), um caçador de recompensas, se arrepende de seus pecados e refugia-se na religiosidade de um mosteiro, porém, ao ser expulso do santuário, pois o monge superior tem estranhos sonhos indicando Kane não mais pertence a aquele local, o caçador de recompensas percebe que a redenção de seues pecados não ocorrerá através da renúncia da violência como imaginou ao se isolar, e volta a uma vida de assassinatos para encontrar sua paz interior.
Sem dúvida a temática aprofundada é muito mais interessante do que a maneira que o diretor a apresenta no filme, até porque este deve ter alguma rentabilidade, mas para além dos efeitos especiais, essa temática de redenção é extremamente marcante para adolescentes que tenham assistido ao filme. Ao me deitar enquano apanhava um livro para ler pensei o que se passa na cabeça desse estudante para assistir e gostar tanto do filme e me lembrei de filmes que marcaram minha adolescência, de longe o principal foi Karate Kid II.

Fomte: http://www.diegoc.com.br/wp/karate-kid-2010/karate-kid-03806/
Autoria reprodução
Ainda escreverei com calma sobre esse assunto que me fez refletir tanto nos últimos tempos, mas ainda que familiares influenciem diretamente nossa formação, ainda que professores influenciam diretamente a nossa formação, ainda que existam muitas variáveis que ajudam a explicar quem somos hoje, uma das que permanece mais ignorada sobretudo para os ramos da psicologia, é a mídia. Não quero dizer com isso que a mídia tenha um papel determinante na formação do indivíduo, mas é preciso levar em consideração a importância dos meios de comunicação sobre as pessoas, sobretudo durante sua formação, pois muitas vezes os valores transmitidos por pais e professores são impostos e por isso assimilados com o sentimento predominante de desprazer, enquanto os valores impostos pela mídia são assimilados com prazer pelo simples fato do adolescente poder escolher o que irá assistir ou escutar. Assim a questão passa a ser ainda mais complexa.
Vou usar um exemplo pessoal do filme Karate Kid II. Os anos 90 devido à abertura econômica e cultura pós-ditadura promovida pelas eleições diretas no Brasil, foram anos em que as artes marciais eram um potente instrumento da mídia, talvez pelo impacto visual de violência nas telas de televisão, talvez pelo fim da Ditadura Militar e a Guerra Fria quando as pessoas viviam sob uma violência militar explícita nos porões do DOPS ou uma violência igualmente fria, como a possibilidade de uma terceira guerra mundial; o fato é que os grandes ícones da minha infância e adolescência foram Jaspion, Changeman, Black Kamen Rider, Street Fighter, Mortal Kombat e Cavaleiros do Zodíaco, além de tantos otros que se não violentos em si, incorporaram a violência em suas atividades como Michael Jackson no álbum "Black or White" (1991) no clipe da música homônima em que Jackson destrói um carro.
Contudo, a violência muitas vezes era carregada de mensagens postitivas como o que acontece em Karate Kid II: Daniel Sam luta pela honra de Kumiko que foi agredida por Choze. Não que lembrasse de todos estes detalhes, mas a honra que Daniel defende foi marcante para mim e esse valor de alguma maneira fio incorporado; a trilha sonora de Peter Cetera é o auge.
Peter Cetera - Glory Of Love
Tonight it's very clear
As we're both lying here
There's so many things I wanna say
I will always love you
I would never leave you alone
Sometimes I just forget
Say things I might regret
It breaks my heart to see you crying
I don't wanna lose you
I could never make it alone
I am a man who will fight for your honor
I'll be the hero you're dreaming of
We'll live forever knowing together
That we did it all for the glory of love
You keep me standing tall
You help me through it all
I'm always strong when you're beside me
I have always needed you
I could never make it alone
Just like a knight in shining armor
From a long time ago
Just in time I will save the day
Take you to my castle far away
I am a man who will fight for your honor
I'll be the hero you're dreaming of
Gonna live forever knowing together
That we did it all for the glory of love
We'll live forever
Knowing together
That we did it all for the glory of love
We did it all for love
Hoje percebo quanto claramente esse filme marcou minha própria concepção de vida e me pergunto como a geração de meus futuros ex-alunos, cada vez mais à mercê da mídia através da internet assimila essas ideias, afinal, o que querem os sociopatas que entram atirando em escolas e depois se matam senão redenção?
quinta-feira, 14 de abril de 2011
"Batatinha quando nasce..."
"Estou procurando, estou procurando. Estou tentando entender. Tentando dar a alguém o que vivi e não sei a quem, mas não quero ficar com o que vivi. Não sei o que fazer do que vivi, tenho medo dessa desorganização profunda. Não confio no que me aconteceu. Aconteceume alguma coisa que eu, pelo fato de não a saber como viver, vivi uma outra? A isso quereria chamar desorganização, e teria a segurança de me aventurar, porque saberia depois para onde voltar: para a organização anterior. A isso prefiro chamar desorganização pois não quero me confirmar no que vivi - na confirmação de mim eu perderia o mundo como eu o tinha, e sei que não tenho capacidade para outro.
Se eu me confirmar e me considerar verdadeira, estarei perdida porque não saberei onde engastar meu novo modo de ser - se eu for adiante nas minhas visões fragmentárias, o mundo inteiro terá que se transformar para eu caber nele.
Perdi alguma coisa que me era essencial, e que já não me é mais. Não me é necessária, assim como se eu tivesse perdido uma terceira perna que até então me impossibilitava de andar mas que fazia de mim um tripé estável. Essa terceira perna eu perdi. E voltei a ser uma pessoa que nunca fui. Voltei a ter o que nunca tive: apenas as duas pernas. Sei que somente com duas pernas é que posso caminhar. Mas a ausência inútil da terceira me faz falta e me assusta, era ela que fazia de mim uma coisa encontrável por mim mesma, e sem sequer precisar me procurar.
Estou desorganizada porque perdi o que não precisava? Nesta minha nova covardia - a covardia é o que de mais novo já me aconteceu, é a minha maior aventura, essa minha covardia é um campo tão amplo que só a grande coragem me leva a aceitá-la -, na minha nova covardia, que é como acordar de manhã na casa de um estrangeiro, não sei se terei coragem de simplesmente ir. É difícil perder-se. É tão difícil que provavelmente arrumarei depressa um modo de me achar, mesmo que achar-me seja de novo a mentira de que vivo. Até agora achar-me era já ter uma idéia de pessoa e nela me engastar: nessa pessoa organizada eu me encarnava, e nem mesmo sentia o grande esforço de construção que era viver. A idéia que eu fazia de pessoa vinha de minha terceira perna, daquela que me plantava no chão. Mas e agora? estarei mais livre?
Não. Sei que ainda não estou sentindo livremente, que de novo penso porque tenho por objetivo achar - e que por segurança chamarei de achar o momento em que encontrar um meio de saída. Por que não tenho coragem de apenas achar um meio de entrada? Oh, sei que entrei, sim. Mas assustei-me porque não sei para onde dá essa entrada. E nunca antes eu me havia deixado levar, a menos que soubesse para o quê.
Ontem, no entanto, perdi durante horas e horas a minha montagem humana. Se tiver coragem, eu me deixarei continuar perdida. Mas tenho medo do que é novo e tenho medo de viver o que não entendo quero sempre ter a garantia de pelo menos estar pensando que entendo, não sei me entregar à desorientação. Como é que se explica que o meu maior medo seja exatamente em relação: a ser? e no entanto não há outro caminho. Como se explica que o meu maior medo seja exatamente o de ir vivendo o que for sendo? como é que se explica que eu não tolere ver, só porque a vida não é o que eu pensava e sim outra como se antes eu tivesse sabido o que era! Por que é que ver é uma tal desorganização? E uma desilusão. Mas desilusão de quê? se, sem ao menos sentir, eu mal devia estar tolerando minha organização apenas construída? Talvez desilusão seja o medo de não pertencer mais a um sistema. No entanto se deveria dizer assim: ele está muito feliz porque finalmente foi desiludido. O que eu era antes não me era bom. Mas era desse não-bom que eu havia organizado o melhor: a esperança. De meu próprio mal eu havia criado um bem futuro. O medo agora é que meu novo modo não faça sentido? Mas por que não me deixo guiar pelo que for acontecendo? Terei que correr o sagrado risco do acaso. E substituirei o destino pela probabilidade."
Clarice Lispector em "A Paixão Segundo GH"
Se eu me confirmar e me considerar verdadeira, estarei perdida porque não saberei onde engastar meu novo modo de ser - se eu for adiante nas minhas visões fragmentárias, o mundo inteiro terá que se transformar para eu caber nele.
Perdi alguma coisa que me era essencial, e que já não me é mais. Não me é necessária, assim como se eu tivesse perdido uma terceira perna que até então me impossibilitava de andar mas que fazia de mim um tripé estável. Essa terceira perna eu perdi. E voltei a ser uma pessoa que nunca fui. Voltei a ter o que nunca tive: apenas as duas pernas. Sei que somente com duas pernas é que posso caminhar. Mas a ausência inútil da terceira me faz falta e me assusta, era ela que fazia de mim uma coisa encontrável por mim mesma, e sem sequer precisar me procurar.
Estou desorganizada porque perdi o que não precisava? Nesta minha nova covardia - a covardia é o que de mais novo já me aconteceu, é a minha maior aventura, essa minha covardia é um campo tão amplo que só a grande coragem me leva a aceitá-la -, na minha nova covardia, que é como acordar de manhã na casa de um estrangeiro, não sei se terei coragem de simplesmente ir. É difícil perder-se. É tão difícil que provavelmente arrumarei depressa um modo de me achar, mesmo que achar-me seja de novo a mentira de que vivo. Até agora achar-me era já ter uma idéia de pessoa e nela me engastar: nessa pessoa organizada eu me encarnava, e nem mesmo sentia o grande esforço de construção que era viver. A idéia que eu fazia de pessoa vinha de minha terceira perna, daquela que me plantava no chão. Mas e agora? estarei mais livre?
Não. Sei que ainda não estou sentindo livremente, que de novo penso porque tenho por objetivo achar - e que por segurança chamarei de achar o momento em que encontrar um meio de saída. Por que não tenho coragem de apenas achar um meio de entrada? Oh, sei que entrei, sim. Mas assustei-me porque não sei para onde dá essa entrada. E nunca antes eu me havia deixado levar, a menos que soubesse para o quê.
Ontem, no entanto, perdi durante horas e horas a minha montagem humana. Se tiver coragem, eu me deixarei continuar perdida. Mas tenho medo do que é novo e tenho medo de viver o que não entendo quero sempre ter a garantia de pelo menos estar pensando que entendo, não sei me entregar à desorientação. Como é que se explica que o meu maior medo seja exatamente em relação: a ser? e no entanto não há outro caminho. Como se explica que o meu maior medo seja exatamente o de ir vivendo o que for sendo? como é que se explica que eu não tolere ver, só porque a vida não é o que eu pensava e sim outra como se antes eu tivesse sabido o que era! Por que é que ver é uma tal desorganização? E uma desilusão. Mas desilusão de quê? se, sem ao menos sentir, eu mal devia estar tolerando minha organização apenas construída? Talvez desilusão seja o medo de não pertencer mais a um sistema. No entanto se deveria dizer assim: ele está muito feliz porque finalmente foi desiludido. O que eu era antes não me era bom. Mas era desse não-bom que eu havia organizado o melhor: a esperança. De meu próprio mal eu havia criado um bem futuro. O medo agora é que meu novo modo não faça sentido? Mas por que não me deixo guiar pelo que for acontecendo? Terei que correr o sagrado risco do acaso. E substituirei o destino pela probabilidade."
Clarice Lispector em "A Paixão Segundo GH"
quarta-feira, 13 de abril de 2011
Carta aberta aos meu ex-alunos - sempre Laerte...
Meus futuros ex-alunos, a verdade é que os intermináveis discursos sobre educação proferidos por professores, coordenadores, diretores e até alguns pais, são muito similares a futebol: todos possuem algum fundamento teórico, mas muito mais fundamento prático, assim, esses discursos acabam carregados de uma emotividade irracional. Exatamente por isso futebol se discute em mesa de bar tomando cerveja, porém a discussão sobre educação se passa em sala de professores regado à café.
Nunca chegaremos a uma opinião única sobre o assunto, e é certo que, apesar de muitos professores não se darem ao benefício da dúvida, todos deveriam sempre se questionar pois a educação tem como objeto o ser humano, essa mistério para sempre insondável...
Desde que me tornei um aficcionado por artes gráficas nunca vi uma tirinha que representasse tão bem o que é a educação como esta tirinha do Laerte.
Autoria Laerte
Entendo que a maior parte de vocês aprende algo que em princípio é prazeroso, mas que a longo prazo traz malefícios, nesse caso o representado pelo chocolate, durante toda a infância. Esse aprendizado é sempre trazido pelos pais, os primeiros educadores da criança, que muitas vezes não tem capacidade de mensurar as consequências desse aprendizado que busca um prazer imediato, pois muitos não possuem uma consciência educacional.
Esse aprendizado é incorporado eficazmente através do prazer, e ao adentrar uma institução escolar, melhor conhecedora das consequências desse tipo de aprendizado, o enfrentamento com outro tipo de aprendizado no qual o prazer não existe ou existe a longo prazo, representado pela pedra nessa tirinha, vocês recusam esse outros aprendizado pela ausência de prazer.
Na minha opinião, Laerte é capaz de em três quadrinhos desdobrar ideias complexas como estas. Vale a pena a reflexão...
Nunca chegaremos a uma opinião única sobre o assunto, e é certo que, apesar de muitos professores não se darem ao benefício da dúvida, todos deveriam sempre se questionar pois a educação tem como objeto o ser humano, essa mistério para sempre insondável...
Desde que me tornei um aficcionado por artes gráficas nunca vi uma tirinha que representasse tão bem o que é a educação como esta tirinha do Laerte.
Autoria LaerteEntendo que a maior parte de vocês aprende algo que em princípio é prazeroso, mas que a longo prazo traz malefícios, nesse caso o representado pelo chocolate, durante toda a infância. Esse aprendizado é sempre trazido pelos pais, os primeiros educadores da criança, que muitas vezes não tem capacidade de mensurar as consequências desse aprendizado que busca um prazer imediato, pois muitos não possuem uma consciência educacional.
Esse aprendizado é incorporado eficazmente através do prazer, e ao adentrar uma institução escolar, melhor conhecedora das consequências desse tipo de aprendizado, o enfrentamento com outro tipo de aprendizado no qual o prazer não existe ou existe a longo prazo, representado pela pedra nessa tirinha, vocês recusam esse outros aprendizado pela ausência de prazer.
Na minha opinião, Laerte é capaz de em três quadrinhos desdobrar ideias complexas como estas. Vale a pena a reflexão...
terça-feira, 12 de abril de 2011
Carta aberta aos meus futuros ex-alunos - Enfim... Num um pouco livre!
Enfim, acabaram-se as correções e lençamento de notas. Quero escrever, mas meu corpo precisa de repouso. Amanhã com certeza.
segunda-feira, 4 de abril de 2011
domingo, 3 de abril de 2011
Carta aberta aos meus futuros ex-alunos - avaliação anual
O trabalho do professor é repleto de cobranças. Talvez por isso sejamos tão incisivos ao cobrá-los, meus futuros ex-alunos...
Estou, e a maior parte de nós professores e também vocês, num momento delicado: preparação, aplicação, correção e fechamento de notas bimestrais. Esse momento, que consome boa parte do tempo profissional e não profissional, está tomando neste ano por outra demanda ainda mais desgastante: a avaliação anual do professor.
Quanto mais convivo no ambiente escolar, mais me parece um ambiente empresarial, porém sem as especificidades de um empresa que lida com um capital muito valioso e complexo, o capital educativo. Imagine nas tarde chuvosas de fins de março, quando grupos de estudo e reflexão se reúnem, a despeito do trânsito desse inferno cinza e a falta de vagas para estacionar, para discutir textos complexos de teóricos da educação e compartilhar práticas que extrapolam a sala de aula, vaga lembrança para os coordenadores e diretores, abarcando questões gerenciais, o questionamento que surge ao se tocar no assunto avaliação de desempenho profissional...
Como avaliar um professor meus futuros ex-alunos? Talvez muitos respondem por vingança que devemos fazer provas, mas não se trata apenas de uma avaliação de conhecimentos, alias, muito pouco exigida do ponto de vista qualitativo nas escolas, trata-se de uma avaliação do osso desempenho profissional, que extrapola a questão do conhecimento específico. Claro que a opinião de vocês deve ser levada em conta, mas com que peso? Afinal vocês são apenas crianças de 10 a 14 anos de idade e não tem maturidade intelectual de uma análise mais profunda (anda que em muitas classes seria muito bom ser analisado apenas por vocês. Devemos envolver os pais também, claro, mas com que conhecimento do trabalho do professor: as notas no boletim, o caderno do filho, uma ou duas reuniões da quais participou, a compra de bilhetes na barraca da pescaria na festa junina? Apesar de maturidade, o questionamento que o pai pode fazer ao professor é relativamente limitado, sendo na verdade proporcional ao envolvimento do pai com o filho e com a escola.
Legenda: O cavalo de Tróia, do filme "Tróia" (2004). Daí surgiram diversos ditados modernos como "não é possível agradar gregos e troianos"...
Estamos chegando a algo meninos e meninas, quem mais pode opinar sobre nosso trabalho? Coordenadores de diretores. Pessoas bastante envolvidas com vocês, com os pais e conosco, talvez os mais indicados para fazer essa análise. Além de claro, assim como fazemos com vocês, uma auto-avaliação, como fazemos com vocês, nada mais justo. Como a história nos ensina, é impossível chegar a um denominador comum do que é um fato ocorrido no passado, mas é possível levar-se em conta diversos pontos de vista para se desenvolver uma opinião baseada no que existe de mais preciso para se avaliar um evento passado.
Mais uma vez voltamos ao início, toda empresa deve manter um controle da produtividade do sei funcionário, mas muitas escolas levam essa análise a níveis demasiadamente matemáticos, desconsiderando fatores emocionais envolvidos na aquisição desse capital humano. Assim como vocês, e essa é uma das minhas críticas mais severas ao sistema de avaliação das escolas hoje, somos avaliados por números como se também fossemos números desprovidos de qualquer outro tipo de capacidade intelectual que não se revertesse em alunos com boas notas, pais satisfeitos com as notas de seus filhos e coordenadores e diretores satisfeitos com o equilíbrio entre aprovados e reprovados.
Legenda: Abertura do seriado norte-americano "The Prisioner", que alcançou grande sucesso nos EUA na década de 60 e 70 cujo mote era "I'm not a number... I'm a free man!", que endeu inclusive uma homenagem pela banda de heavy metal britânica Iron Maiden.
Talvez essa postagem não faça sentido e talvez nunca faça porque talvez nunca nenhum de vocês jamais a lerá, mas nossa "incapacidade institucional" em formá-los em adultos conscientes nunca os permitirá, enquanto estiverem dentro de nossa instituição escolar, criticar esse sistema avaliativo empresarial a qual ambos estamos submetidos. É a "incapacidade institucional" presente nos sistema educacional não apenas de nossa escola, mas da educação, que nos uni meus futuros ex-alunos.
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