segunda-feira, 5 de março de 2012

Carta aberta aos meus futuros ex-alunos - Eu também já fui Holden Caufield...

Olá meus futuros ex-alunos...

Antes de qualquer coisa... Acho que jamais me acostumarei a falta do hifém na gramática brasileira...

Entre tantas vivências que a profissão me tem proporcionado nos últimos meses que me mantive tão ausente desse blog, uma delas me tem especial importancia: impaciência. Sei que parece um pouco agressivo, mas a impacienência tem sido um dos sentimentos mais frequentes durantes minhas últimas aulas, ainda que, imageinei ser algo temporário.

A profissão de professor implica numa série de virtudes desejáveis como o desejo pelo aprendizado, a auto crítica, a paciência, mas me tem faltado essa última, e hoje, depois de alguns meses me pergunto afinal, como a virtude partiu como o ar fresco de outono transfigurado em inverno.

Talvez tenha sido apenas comodidade da experiência docente que me tenha tornado seguro, permitindo que essa impaciência em transformar tudo ganhasse vulto. Contudo, algumas situações de impaciência são objetivas, por exemplo, a transformação que sofrem os estudantes entre o 8o e 9o anos (desculpem, mas o laptop possui teclado norte-americano e não consigo incluir símbolos).


Fonte: http://www.flickr.com/photos/51053493@N04/4858228794/sizes/l/in/photostream/
Autoria: EyeNorth

Brinco entre os estudantes do final do 8o ano em que digo: "Pena que ano que vem vocês ficarão chatos" e por mais que eu queri deixar de acreditar nisso, isso vem se repetindo ao longo dos anos irrevogavelmente. Entendo, eu também já fui Holden Caufield, um adolescente querendo ser alguém... Querendo ser, como escreveu J. D. Salinger, o apanhador no campo de centeio...

"-Você sabe o que eu quero ser? - perguntei a ela. Sabe o que é que eu queria ser? Se pudesse fazer a merda da escolha?" Seja lá como for, fico imaginando uma porção de garotinhos brincando de alguma coisa num baita campo de centeio e tudo... E eu fico na beirada de um precipicio maluco. Sabe o que eu tenho de fazer? Tenho que agarrar todo mundo que vai cair no abismo. Quer dizer, se um deles começar a correr sem olhar onde está indo, eu tenho que aparecer de algum canto e agarrar o garoto. Só isso que eu ia fazer o dia todo. Ia ser o apanhador no campo de centeio."

Entendo a adolescência, mas para quem um dia deixou o campo de centeio em troca de três refeiçoes e um banho quente no final do dia, é bastante complicado tentar entender sem comparar com sua própria adolescência...

Talvez seja apenas saudades daqueles meninos e meninas do 8o ano, ainda tão dependentes... E talvez, de alguma maneira, eu ainda seja o apanhador no campo de centeio e não queira deixar de ser...

Um comentário:

Unknown disse...

"Há coisas que deviam ficar do jeito que estão. A gente devia poder enfiá-las num daqueles mostruários enormes de vidro e deixá-las em paz. Sei que isso não é possível, mas é uma pena que não seja."

- O Apanhador no Campo de Centeio, J. D. SALINGER; Cap. 16

Adoro esse livro :)
Bjs