sábado, 31 de maio de 2014
"Batatinha quando nasce..."
O hospital de cães e gatos ficava na esquina, em um prédio pequeno e decrépito, feito de tijolos, vizinho a um terreno baldio, um lugar onde se jogavam fora pneus velhos, com um capim quase da altura do Sueco, a ruína retorcida de uma cerca de tela de arame trançado caída na beirada da calçada onde ele esperava a filha... vivia em Newark... havia tanto tempo... e onde, em que tipo de lugar desta cidade? Não, ele já não era mais pobre de imaginação – imaginar o horrível não exigia agora nenhum esforço, muito embora fosse ainda impossível visualizar como ela viera de Old Rimrock para cá. Não havia mais nenhuma fraude a que ele pudesse se agarrar para amenizar a surpresa que viria a seguir.
Esse lugar onde Merry trabalhava sem dúvida não dava a impressão de que ela continuava a acreditar que sua missão erra mudar o rumo da história americana. A escada de incêndio enferrujada do prédio desabaria, se desprenderia de suas junções e desmoronaria no meio da rua se alguém tocasse os degraus com os pés – uma escada de incêndio cuja função não era salvar vidas se houvesse um, mas ficar ali pendurada sem nenhuma utilidade, oferecendo um testemunho da imensa solidão inerente à vida. Para o Sueco, ela estava destituída de qualquer outro significado – nenhum sentido poderia se adaptar melhor a esse prédio. Sim, estamos sós, profundamente sós, e para sempre, uma reserva guardada para nós, uma camada de solidão cada vez mais espessa. Não há nada que possamos fazer para nos livrar disso. Não, a solidão não devia nos surpreender, por mais espantosa que seja essa experiência. A gente pode tentar se virar pelo avesso, mas tudo o que a gente consegue então é ficar do lado avesso e solitário, em vez de do lado direito e solitário. Minha querida e idiota, idiota Merry, mais idiota ainda do que o idiota do seu pai, nem mesmo explodir prédio resolve. É solitário se os prédios estão de pé e é solitário se os prédio vêm abaixo. Não existe protesto que se possa fazer contra a solidão – nem todos os atentados terroristas à bomba da história provocaram um único arranhão na solidão. O explosivo mais letal criado pelos homens não é capaz de tocá-la. Fique de queixo não com o comunismo, minha filha idiota, mas sim com a solidão comum, cotidiana. No dia 1º de maio, vá para a rua e marche com seus amigos para a glória suprema dela, a superpotência das superpotência, a força de suprepuja tudo e todos. Aplique se dinheiro nisso, aposte nisso, cultue isso – curve-se em submissão não à Karl Marx, minha filha gaga, irritada e idiota, não à Ho Chi Minh e Mào Tsé-Tung – curve-se à grande deusa Solidão!
Philip Roth
domingo, 25 de maio de 2014
"Batatinha quando nasce..."
Eles estão chorando com toda a força, o pai leal cujo número é a fonte de toda ordem que existe, o pai que não poderia fazer vista grossa ou sancionar nem mesmo o mais ligeiro sinal de caos - o pai para quem manter o caos longe, ao largo, tinha sido o caminho escolhido por intuição para chegar ao que é certo e seguro, a abnegada e rigorosa vida cotidiana - e a filha, que é o próprio caos.
Philip Roth
Philip Roth
segunda-feira, 19 de maio de 2014
"Batatinha quando nasce..."
Um incrível história de Sócrates
Se o destino não tivesse sido tão ingrato, hoje um grande amigo estaria comemorando 60 anos: Sócrates Brasileiro Sampaio de Souza Vieira de Oliveira, ou simplesmente Magrão.
Quem teve a felicidade de conviver com ele, certamente tem hoje o coração cheio de saudades. Eu tive a satisfação de tê-lo, primeiro como aluno do curso de Medicina Esportiva na UNIFESP, e depois como amigo durante mais de 20 anos.
O Magrão era sinônimo de muita coisa boa: alegria de viver, amizade sincera, boa música, conversas intermináveis e sobretudo, era sinônimo de uma bondade para com os amigos que poucos conheciam, pois ele fazia questão de não divulgar seus atos de desprendimento para com quem ele podia ajudar nos momentos difíceis.
Ele era também protagonista de histórias incríveis, as quais tinha enorme prazer em narrar para os amigos, geralmente regadas com muita cerveja gelada.
Uma dessas histórias é verdadeiramente incrível.
Ocorreu por ocasião da primeira vez em que ele jogou no Pacaembu, pelo Botafogo de Ribeirão Preto contra o Corinthians, na época em que além de jogar como profissional, estudava Medicina na USP de Ribeirão.
O jogo seria numa quarta-feira à noite em São Paulo e coincidia com uma prova que ele teria na Faculdade no mesmo dia, no período da tarde. Ao constatar o problema foi comunicar aos dirigentes do Botafogo que não poderia jogar, pois sua prioridade era o curso de Medicina, e perder a prova significava perder o ano.
De imediato os dirigentes elaboraram uma estratégia, pois ele era o jogador mais importante do time e sua presença era indispensável. Combinaram que um taxi o esperaria na saída da Faculdade e assim que ele terminasse a prova o levaria direto para o estádio (naquela época não havia voo de Ribeirão para São Paulo).
Quando o taxi chegou ao Pacaembu, faltavam cerca de 15 minutos para o horário do jogo. O motorista na frente do estádio pergunta então ao Magrão por onde entrar, ao que ele responde não ter a menor ideia, pois era a primeira vez que jogaria ali.
Com sua calma habitual, dispensou o motorista, desceu do taxi e concluiu que só teria uma forma mais rápida de entrar: simplesmente foi até a bilheteria e comprou uma entrada!
Já dentro do estádio, localizou o túnel por onde deveria entrar o Botafogo e encostou no alambrado, no ponto mais próximo.
Ao tentar argumentar com um guarda que precisava entrar, pois tinha que jogar, ouviu do segurança uma sonora gargalhada! Quando o guarda já se preparava para pedir reforço para deter aquele grandão maluco, um dirigente do Botafogo que estava na beira da entrada do túnel finalmente viu o Magrão e imediatamente orientou: “Pula o alambrado!”
Imaginem a cena; minutos antes de o time entrar em campo, um grandão magro vestido de branco pula o alambrado, acompanhado do olhar estupefato dos guardas e entra correndo túnel abaixo.
Nesta hora o time do Botafogo que já estava no túnel, interrompe a entrada e o Magrão troca de roupa na escada e entra para jogar sem aquecimento, nem nada.
Perguntado sobre o resultado do jogo ele respondia que houve empate e ele fez 2 gols! (Na verdade, ele empatou o jogo em 1 a 1 aos 30 do primeiro tempo, foi substituído, esfalfado no segundo e o Botinha acabou goleado por 4 a 1).
Para terminar a história, argumentava: “Eu devia entrar para o Guiness, pois devo ser o único jogador profissional que pagou para jogar!!!”
Que saudade do Magrão!
Fonte: http://blogdojuca.uol.com.br/2014/02/um-incrivel-historia-de-socrates/
Autor Dr. Turibio Leite de Barros
Se o destino não tivesse sido tão ingrato, hoje um grande amigo estaria comemorando 60 anos: Sócrates Brasileiro Sampaio de Souza Vieira de Oliveira, ou simplesmente Magrão.
Quem teve a felicidade de conviver com ele, certamente tem hoje o coração cheio de saudades. Eu tive a satisfação de tê-lo, primeiro como aluno do curso de Medicina Esportiva na UNIFESP, e depois como amigo durante mais de 20 anos.
O Magrão era sinônimo de muita coisa boa: alegria de viver, amizade sincera, boa música, conversas intermináveis e sobretudo, era sinônimo de uma bondade para com os amigos que poucos conheciam, pois ele fazia questão de não divulgar seus atos de desprendimento para com quem ele podia ajudar nos momentos difíceis.
Ele era também protagonista de histórias incríveis, as quais tinha enorme prazer em narrar para os amigos, geralmente regadas com muita cerveja gelada.
Uma dessas histórias é verdadeiramente incrível.
Ocorreu por ocasião da primeira vez em que ele jogou no Pacaembu, pelo Botafogo de Ribeirão Preto contra o Corinthians, na época em que além de jogar como profissional, estudava Medicina na USP de Ribeirão.
O jogo seria numa quarta-feira à noite em São Paulo e coincidia com uma prova que ele teria na Faculdade no mesmo dia, no período da tarde. Ao constatar o problema foi comunicar aos dirigentes do Botafogo que não poderia jogar, pois sua prioridade era o curso de Medicina, e perder a prova significava perder o ano.
De imediato os dirigentes elaboraram uma estratégia, pois ele era o jogador mais importante do time e sua presença era indispensável. Combinaram que um taxi o esperaria na saída da Faculdade e assim que ele terminasse a prova o levaria direto para o estádio (naquela época não havia voo de Ribeirão para São Paulo).
Quando o taxi chegou ao Pacaembu, faltavam cerca de 15 minutos para o horário do jogo. O motorista na frente do estádio pergunta então ao Magrão por onde entrar, ao que ele responde não ter a menor ideia, pois era a primeira vez que jogaria ali.
Com sua calma habitual, dispensou o motorista, desceu do taxi e concluiu que só teria uma forma mais rápida de entrar: simplesmente foi até a bilheteria e comprou uma entrada!
Já dentro do estádio, localizou o túnel por onde deveria entrar o Botafogo e encostou no alambrado, no ponto mais próximo.
Ao tentar argumentar com um guarda que precisava entrar, pois tinha que jogar, ouviu do segurança uma sonora gargalhada! Quando o guarda já se preparava para pedir reforço para deter aquele grandão maluco, um dirigente do Botafogo que estava na beira da entrada do túnel finalmente viu o Magrão e imediatamente orientou: “Pula o alambrado!”
Imaginem a cena; minutos antes de o time entrar em campo, um grandão magro vestido de branco pula o alambrado, acompanhado do olhar estupefato dos guardas e entra correndo túnel abaixo.
Nesta hora o time do Botafogo que já estava no túnel, interrompe a entrada e o Magrão troca de roupa na escada e entra para jogar sem aquecimento, nem nada.
Perguntado sobre o resultado do jogo ele respondia que houve empate e ele fez 2 gols! (Na verdade, ele empatou o jogo em 1 a 1 aos 30 do primeiro tempo, foi substituído, esfalfado no segundo e o Botinha acabou goleado por 4 a 1).
Para terminar a história, argumentava: “Eu devia entrar para o Guiness, pois devo ser o único jogador profissional que pagou para jogar!!!”
Que saudade do Magrão!
Fonte: http://blogdojuca.uol.com.br/2014/02/um-incrivel-historia-de-socrates/
Autor Dr. Turibio Leite de Barros
domingo, 18 de maio de 2014
"Batatinha quando nasce..."
O Auto-Retrato
No retrato que me faço
- traço a traço -
às vezes me pinto nuvem,
às vezes me pinto árvore...
às vezes me pinto coisas
de que nem há mais lembrança...
ou coisas que não existem
mas que um dia existirão...
e, desta lida, em que busco
- pouco a pouco -
minha eterna semelhança,
no final, que restará?
Um desenho de criança...
Terminado por um louco!
Mario Quintana
No retrato que me faço
- traço a traço -
às vezes me pinto nuvem,
às vezes me pinto árvore...
às vezes me pinto coisas
de que nem há mais lembrança...
ou coisas que não existem
mas que um dia existirão...
e, desta lida, em que busco
- pouco a pouco -
minha eterna semelhança,
no final, que restará?
Um desenho de criança...
Terminado por um louco!
Mario Quintana
terça-feira, 13 de maio de 2014
Citações
Quando dois seres humanos estão perfeitamente contentes um com o outro, podemos assegurar-nos: eles estão completamente enganados.
Goethe
Goethe
sábado, 10 de maio de 2014
Citações
A ditadura perfeita terá as aparências da democracia, uma prisão sem muros na qual os prisioneiros não sonharão com a fuga. Um sistema de escravatura onde, graças ao consumo e ao divertimento, os escravos terão amor à sua escravidão
Aldous Huxley
Aldous Huxley
Assinar:
Comentários (Atom)























