O hospital de cães e gatos ficava na esquina, em um prédio pequeno e decrépito, feito de tijolos, vizinho a um terreno baldio, um lugar onde se jogavam fora pneus velhos, com um capim quase da altura do Sueco, a ruína retorcida de uma cerca de tela de arame trançado caída na beirada da calçada onde ele esperava a filha... vivia em Newark... havia tanto tempo... e onde, em que tipo de lugar desta cidade? Não, ele já não era mais pobre de imaginação – imaginar o horrível não exigia agora nenhum esforço, muito embora fosse ainda impossível visualizar como ela viera de Old Rimrock para cá. Não havia mais nenhuma fraude a que ele pudesse se agarrar para amenizar a surpresa que viria a seguir.
Esse lugar onde Merry trabalhava sem dúvida não dava a impressão de que ela continuava a acreditar que sua missão erra mudar o rumo da história americana. A escada de incêndio enferrujada do prédio desabaria, se desprenderia de suas junções e desmoronaria no meio da rua se alguém tocasse os degraus com os pés – uma escada de incêndio cuja função não era salvar vidas se houvesse um, mas ficar ali pendurada sem nenhuma utilidade, oferecendo um testemunho da imensa solidão inerente à vida. Para o Sueco, ela estava destituída de qualquer outro significado – nenhum sentido poderia se adaptar melhor a esse prédio. Sim, estamos sós, profundamente sós, e para sempre, uma reserva guardada para nós, uma camada de solidão cada vez mais espessa. Não há nada que possamos fazer para nos livrar disso. Não, a solidão não devia nos surpreender, por mais espantosa que seja essa experiência. A gente pode tentar se virar pelo avesso, mas tudo o que a gente consegue então é ficar do lado avesso e solitário, em vez de do lado direito e solitário. Minha querida e idiota, idiota Merry, mais idiota ainda do que o idiota do seu pai, nem mesmo explodir prédio resolve. É solitário se os prédios estão de pé e é solitário se os prédio vêm abaixo. Não existe protesto que se possa fazer contra a solidão – nem todos os atentados terroristas à bomba da história provocaram um único arranhão na solidão. O explosivo mais letal criado pelos homens não é capaz de tocá-la. Fique de queixo não com o comunismo, minha filha idiota, mas sim com a solidão comum, cotidiana. No dia 1º de maio, vá para a rua e marche com seus amigos para a glória suprema dela, a superpotência das superpotência, a força de suprepuja tudo e todos. Aplique se dinheiro nisso, aposte nisso, cultue isso – curve-se em submissão não à Karl Marx, minha filha gaga, irritada e idiota, não à Ho Chi Minh e Mào Tsé-Tung – curve-se à grande deusa Solidão!
Philip Roth

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