quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Tira da semana

Autoria Benett
Fonte http://blogdobenett.blog.uol.com.br/

terça-feira, 15 de setembro de 2009

Citações

"A escrita pode ajudar a suportar a dor"

Adeline Yen Mah em "Cidenrela Chinesa"

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Mémoires du Cinemà - Anticristo (Antichrist) - 2009


Autoria reprodução
Fonte: http://www.freecovers.net/

Ficha técnica:
http://www.imdb.com/title/tt0870984/

O último filme do subversivo diretor dinamarquês Lars Von Trier, integrante do manifesto cinematográfico Dogma 95, merece, dos verdadeiros apreciadores da sétima arte, ao menos um olhar mais atento.

"Anticristo", lançado há algumas semanas em São Paulo, aborda a trajetória de um casal que procura reestabelecer o equilíbrio emocional após a morte de único filho que precipita-se da janela do apartamento, porém, contrariando as determinações éticas da medicina psiquiátrica, o homem, renomado psicanalista, chamado durante todo o filme apenas por 'ele' (interpretado por Willian DaFoe), opta por tratar pessoalmente a própria mulher, 'ela' (interpretada brilhantemente por Charlotte Gainsburg, premiada em Cannes como melhor atriz em 2009), uma escritora que não consegue elaborar o luto da perda do filho.

Aparentemente o enredo parece simples, contudo, ao longo do filme as personagens revelam enorme profundidade psicológica marcadas sobretudo por suas opções profissionais, tornando a trama muito interessante: no intuito de expôr a esposa aos seus medos, pois segundo 'ele', as drogas podem ajudar a conviver com os traumas, mas não há cura sem exposição, 'ele' descobre que a montanha do Éden, onde o casal possui uma casa de campo, é o local onde 'ela' se sente mais ameaçado, mas o Éden também é o mundo criado pelos últimos escritos de 'ela'. Assim, adentrar ao Éden é também adentrar o mundo de 'ela', o mundo da lógica científica racional invadindo o mundo da abstração literária.

Além do enredo, "Anticristo" é um filme de imagens poderosas. Talvez numa das aberturas mais marcantes dos últimos dez anos da história do cinema, o casal aparece em cena monocromática de baixas rotações expondo suas carnes nuas no banheiro, carnes que lentamente se tocam até fundirem-se num balanço mole e contínuo texturizado pela água quente do chuveiro que lhes escorre pele convertendo-se em sexo, alternadamente, o filho inocente liberta-se do berço e, após observar pela porta entreaberta os pais já na cama do quarto, empurra uma cadeira até a janela de onde se atira para dentro da paisagem nevada ao som da ária "Lascia ch’io pianga" da ópera Rinaldo de George Friederich Handel.

Por si só, a intertextualidade criada entre imagem e som já permite uma releitura absolutamente nova ao final do filme.

George Friederich Handel - Lascia ch’io pianga
Lascia ch’io pianga mia cruda sorte,
E che sospiri la libertà!
E che sospiri, e che sospiri la libertà!
Lascia ch’io pianga mia cruda sorte,
E che sospiri la libertà!

Il duol infranga
queste ritorte
de’ miei martiri
sol per pietà!
(de’ miei martiri
sol per pietà!)

Lascia ch’io pianga mia cruda sorte,
E che sospiri la libertà!
E che sospiri, e che sospiri la libertà!

Lascia ch’io pianga mia cruda sorte,
E che sospiri la libertà!

http://www.youtube.com/watch?v=A4AnHNczryI

George Friederich Handel - Deixa que eu chore (tradução)

Deixe que eu chore, pelo meu destino cruel,
E porque eu desejo liberdade!
Deixa que eu chore
Pelo meu destino cruel,
Que eu suspire pela liberdade!
Que eu suspire,
Que eu suspire pela liberdade!

Deixa que eu chore
Pelo meu destino cruel,
Que eu suspire pela liberdade!

O meu destino cruel
Que eu suspire pela liberdade
De meus martírios
Só por piedade,
(De meus martírios
Só por piedade)

Deixa que eu chore
Pelo meu destino cruel,
E porque eu desejo liberdade!

Outra cena marcante está na capa do filme, quando 'ela' pede que 'ele' a esbofeteie durante o sexo, diante da recusa 'ela' se refigia no bosque e, deitada nua ao pé de um carvalho se masturba freneticamente entre as brumas que recaem sobre o Éden durante a madrugada. 'Ele' também nu sai a sua procura no bosque, e ao encontrá-la a penetra enquanto marca violentamente seu rosto com tapas recebidos cada vez com mais prazer. Pouco a pouco, das raízes do velho carvalho que acolhem os dois amantes surgem diversos braços, como se a a própria natureza ganhasse vida com a fecundidade masoquista do casal.


Autoria reprodução
Fonte: http://moviesense.wordpress.co

Bastante imprevisível, o desenlace mantém a mente do espectador ocupada mesmo após a sessão, quando finalmente, o veado, a raposa e o corvo se reencontram numa alusão clara às categorias de análise psicanalíticas que sustentam o mundo de 'ele'.

Poucas vezes um filme chegou ao ponto de me transtornar tão profundamente, tanto emocional como fisicamente. Se não pelo enredo, se não pela poêmica quando exibido no festival de Cannes, se não pelas imagens, se não pela atuação de Charlotte Gainsburg, se não pelo final, "Anticristo" é indispensável enquanto experiência cinematográfica, pois desdobra a linguagem do cinema em dmensões que extrapolam a tela.

Perturbador, mas indispensável.

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Imagem da semana


Autoria Benett
Fonte: http://blogdobenett.blog.uol.com.br/

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Midiofobia - Em busca de boas surpresas

Fonte: Folha de São Paulo
Data: 10 de agosto de 2009

Recentemente li um artigo num dos melhores suplementos de jornal publicados em São Paulo. Trata-se do “The New York Times”, que contém reportagens e artigos do diário nova-iorquino traduzidos para o português, publicado toda segunda-feira pela Folha de São Paulo. O “The New York Times” é uma possibilidade do leitor diversificar sua pauta semanal de notícias, uma vez que geralmente os leitores ficam à mercê de dois ou três periódicos replicando as mesmas pautas, além do mais, o suplemento traz uma linguagem gráfica, jornalistica e iconográfica bastante diversa daquela que estamos habituados.

O artigo referenciado como “ensaio” é entitulado “Em busca de boas surpresas”, no qual o articulista do Times, Damon Darlin, resgata o significado da palavra inglesa “serendipity”, sem tradução direta para o português que significa o equivalente a “descobertas casuais e positivas” ou simplesmente “boas surpresas”. Como o autor relata no ensaio, há alguns anos vivenciei a lenta e silenciosa extinção do “serendipity” enquanto selecionava algumas músicas para escutar numa enorme lista de MP3 no PC, ignorando as infinitas possibilidades que teria sintonizando uma estação de rádio. Darlin desdobra essa reflexão para outras esferas da vida cotidiana como as comunidades virtuais tais como o Orkut e o Facebook e comunicadores instantâneos como Twitter, MSN e Skype, que estão estão diminuindo cada vez mais a possibilidade do desconhecido tornar-se surpreendentemente bom no que diz respeito às relações humanas.


Autoria Thomas Hoepker/Magnum Photos
Fonte: http://gestaltungen.wordpress.com
Legenda: adolescentes norte-americanos conversando sem aperceber-se da fumaça que escapa das torres gêmeas do World Trade Center logo após o ataque terrorista de 11 de setembro de 2001.

Hoje, a palavra de ordem é "controle". Numa perspectiva quase profética foucaltiana, essa necessidade de absoluto controle, cuja origem já parece perder-se no tempo, pois deita raízes na própria fundação da cultura ocidental judaico-cristã originada por um deus mosaico e onipresente preparado para punir aqueles que transgridam seus mandamentos, é inspirada pelo medo. Afinal, como poderia ser diferente, se como já escrevi anteriormente, o século XXI é inaugurado numa imagem da rede mundial de televisão mostrando um dos maiores ataques terroristas já realizados na história da humanidade, em que dois aviões chocam-se contra as torres gêmeas do World Trade Center, atingido o coração financeiro da maior cidade da nação mais poderosa de mundo no dia 21 de setembro de 2001?

Optamos pelo controle em detrimento do medo, fizemos a opção pelo medo, pois passamos a crer que o controle nos permitirá também controle do desenrolar dos fatos, e assim a possibilidade de evitar o desconhecido ainda que esse desconhecido possa trazer algo de surpreendentemente bom como o "serendipity". Porém, o próprio controle tem se voltado contra nós, pois, aliado ao desenvolvimento tecnológico tem aprimorado cada vez mais a vigilância indispensável para esse mesmo controle, tornando-nos cada vez mais públicos e vulneráveis aos conglomerados empresariais ligados interessados em patrocinar o controle e o medo como operadoras de crédito e instituições bancárias.


Autoria reprodução
Fonte: http://www.freecovers.net
Legenda: capa do filme Gattaca (1997), que retrata uma sociedade do futuro totalmente controlada pelas possibilidades genéticas dos seres humanos.

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Citações

Para N.

"A paixão de Bastian Baltasar Bux eram os livros. Quem nunca passou tardes inteiras diante de um livro, com as orelhas ardendo e o cabelo caído sobre o rosto, esquecido de tudo que o rodeia e sem dar conta de que está com fome ou com frio... Quem nunca se escondeu debaixo dos cobertores lendo um livro à luz de uma lanterna, depois que o pai ou a mãe ou qualquer outro adulto ter apagado a luz com o argumento bem-intencionado de que já é hora de ir para a cama, pois no dia seguinte é preciso levantar cedo... Quem nunca chorou, às escondidas ou na frente de todo mundo, lágrimas amargas, porque uma história maravilhosa chegou ao fim e é preciso dizer adeus às personagens na companhia das quais se viveram tantas aventuras que foram amadas e admiradas, pelas quais se temeu ou ansiou, e sem cuja companhia a vida parece vazia...”

Michael Ende em "A História sem Fim"

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Retorno...

Após sete meses escrevendo este blog me ausentei por quase um mês devido ao excesso de responsabilidades assumidas esse semestre. Mesmo considerando o reduzido número de visitantes me sinto na obrigação de desculpar-me, afinal, talvez entre esses poucos, alguns de meus escritos tenham mais importância do que eu imagine.

Para mim também tem sido difícil deixar de escrever neste blog. Com uma árvore sem flor, sinto-me entristecido na potencialidade de tudo aquilo que poderia ser gozo em planitude.


Autoria própria