Data: 10 de agosto de 2009
Recentemente li um artigo num dos melhores suplementos de jornal publicados em São Paulo. Trata-se do “The New York Times”, que contém reportagens e artigos do diário nova-iorquino traduzidos para o português, publicado toda segunda-feira pela Folha de São Paulo. O “The New York Times” é uma possibilidade do leitor diversificar sua pauta semanal de notícias, uma vez que geralmente os leitores ficam à mercê de dois ou três periódicos replicando as mesmas pautas, além do mais, o suplemento traz uma linguagem gráfica, jornalistica e iconográfica bastante diversa daquela que estamos habituados.
O artigo referenciado como “ensaio” é entitulado “Em busca de boas surpresas”, no qual o articulista do Times, Damon Darlin, resgata o significado da palavra inglesa “serendipity”, sem tradução direta para o português que significa o equivalente a “descobertas casuais e positivas” ou simplesmente “boas surpresas”. Como o autor relata no ensaio, há alguns anos vivenciei a lenta e silenciosa extinção do “serendipity” enquanto selecionava algumas músicas para escutar numa enorme lista de MP3 no PC, ignorando as infinitas possibilidades que teria sintonizando uma estação de rádio. Darlin desdobra essa reflexão para outras esferas da vida cotidiana como as comunidades virtuais tais como o Orkut e o Facebook e comunicadores instantâneos como Twitter, MSN e Skype, que estão estão diminuindo cada vez mais a possibilidade do desconhecido tornar-se surpreendentemente bom no que diz respeito às relações humanas.

Autoria Thomas Hoepker/Magnum Photos
Fonte: http://gestaltungen.wordpress.com
Legenda: adolescentes norte-americanos conversando sem aperceber-se da fumaça que escapa das torres gêmeas do World Trade Center logo após o ataque terrorista de 11 de setembro de 2001.
Hoje, a palavra de ordem é "controle". Numa perspectiva quase profética foucaltiana, essa necessidade de absoluto controle, cuja origem já parece perder-se no tempo, pois deita raízes na própria fundação da cultura ocidental judaico-cristã originada por um deus mosaico e onipresente preparado para punir aqueles que transgridam seus mandamentos, é inspirada pelo medo. Afinal, como poderia ser diferente, se como já escrevi anteriormente, o século XXI é inaugurado numa imagem da rede mundial de televisão mostrando um dos maiores ataques terroristas já realizados na história da humanidade, em que dois aviões chocam-se contra as torres gêmeas do World Trade Center, atingido o coração financeiro da maior cidade da nação mais poderosa de mundo no dia 21 de setembro de 2001?
Optamos pelo controle em detrimento do medo, fizemos a opção pelo medo, pois passamos a crer que o controle nos permitirá também controle do desenrolar dos fatos, e assim a possibilidade de evitar o desconhecido ainda que esse desconhecido possa trazer algo de surpreendentemente bom como o "serendipity". Porém, o próprio controle tem se voltado contra nós, pois, aliado ao desenvolvimento tecnológico tem aprimorado cada vez mais a vigilância indispensável para esse mesmo controle, tornando-nos cada vez mais públicos e vulneráveis aos conglomerados empresariais ligados interessados em patrocinar o controle e o medo como operadoras de crédito e instituições bancárias.

Autoria reprodução
Fonte: http://www.freecovers.net
Legenda: capa do filme Gattaca (1997), que retrata uma sociedade do futuro totalmente controlada pelas possibilidades genéticas dos seres humanos.

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