segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Carta aberta aos meus futuros ex-alunos - Uma educação pra que afinal?

Um dos momentos mais curiosos de tornar-se professor são os momentos fora da sala de aula, como as festas de dia dos professores, os congressos de formação pedagógica e as reuniões. Após um dia cansativo de aulas, essa reuniões se arrastam longas e intermináveis noite adentro, e são inúmeras e ainda mais, necessárias: reuniões da área, reuniões da unidade, reuniões de rede, reuniões de tutoria, reuniões de sindicato, reuniões de formação, etc, etc, etc.

Nessas reunião que preparamos planejamentos, analisamos resultados e discutimos estratégias, como uma empresa a cuidar de seus interesses, temos apenas um único objetivo preocupar-se com a qualidade da educação fornecida pela empresa-escola aos cliente-alunos.

A propósito dessas reuniões que buscam a tal qualidade no ensino, assisti nos últimos dias a um filme lançado ano passado que se chama "Educação" da diretora Lone Scherfig, cujo título original em inglês é "An Education". Ainda que eu não seja um grande conhecedor da gramática da língua inglesa, a palavra "an" é um artigo indefinido que significa "um" ou "uma", assim, a tradução literal do título do filme seria "Uma Educação". Nunca despendi tempo pesquisando quem são as empresas que contratam os tradutores, ou melhor, os poetas-tradutores, que, sentindo-se livres para utilizar a "licença poética", violam os títulos de filmes estrangeiros. Sem dúvida, são pessoas desprovidas de qualquer senso crítico, pois o filme de Scherfig perde completamente o sentido quando o título é alterado.

Fonte: http://www.britflicks.com/Gallery/Forms/AllItems.aspx?RootFolder=%2FGallery%2FFilms

Em linhas gerais, o filme se passa na Inglaterra nos anos 60, onde Jenny (interpretada belamente por Carey Mulligan), uma baby-boomer filha da segunda grande Guerra Mundial, vive uma vida comum entre a classe média alta londrina: pais conservadores e temerosos depositam sua expectativa nas aulas de cello da filha e em seu ingresso em Oxford ou Harvard, enquando Jenny representa o esperado papel familiar impecável para se manter-se secretamente seduzida pelas canções de Juliette Gréco a emergente contra-cultura francesa inspirada pelos anéis de fumaça do cigarro ouvindo Juliette Gréco e lendo Camus.

Esse universo harmônico é rompido quando David (interpretado por Peter Sarsgaard), um homem mais velho, oferece uma carona à garota, e pouco a pouco a conquista realizando suas utpoias francesas, uma estratégia de sedução comum, ainda que de certa forma covarde, que homens mais velhos utilizam para seduzir garotas mais jovens. A vida de Jenny com David se distancia muito da expectativa de seus pais e ao final do filme a garota precisa escolher: realizar as expectativas dos pais concluindo seus estudos com louvor, ingressando em uma boa universidade, formar-se e trabalhar para estabelecer-se como mulher independente, ou realizar suas próprias expectativas partindo com o namorado para viver uma vida de glamour às suas custas, sem a necessidade de estudar ou trabalhar.

Não estragaria o final do filme contando-o, mas posso contar sobre o título original, onde reside a riqueza da película de Lone Scherfig: Jenny escolhe não "a educação", mas "uma educação".

Esse momentos de reunião discutem muito "a educação", mas não " uma educação", não discute as escolhas de vocês meud futuros ex-alunos e sim as escolhas de nós, pais, professores, assessores, coordenadores, diretores do que consideramos melhor pra vocês, como se vocês mesmos fossem apenas coadujuvantes de suas próprias vidas. Não tenho experiência suficiente para essa afirmação, mas vou concluir ousando afirmar que a percepção de realidade na qual se baseia a pedagogia moderna parte sempre do instrutor para o instruído, arruinando parte da proposta da educação, seja ela escolar ou não, que é a integração consigo mesmo e com a socciedade em que se vive.

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