Ler trevas, Nas letras, ler tudo o que de ler não te atrevas. Ler mais. Ler além do bem. Além do mal. Além do além. Horas extras ou etcéteras, adeus, amém. Bsquem outros a velocidade da luz. Eu busco a velocidade da treva.
Realmente estou em crise de abstinência na leitura de sites de notícias mais interessantes, na realidade me impus essa limitação para escrever sobre assuntos que ainda não tive tempo de explorar. Prometo voltar a publicar sobre atualidades em breve...
Não poderia deixar passar, como crítico do Facebook que sou - crítico preconceituoso reconheço no melhor estilo criança "não-comi-e-não-gostei" - um artigo interessante do Observatório da Imprensa sobre a censura do fenômeno criado por Mark Zuckerberg.
Como professor de história, estudo e ensino sobre sociedades que procuram estabelecer o controle sobre sua população sob os mais diversos aspectos - de certo ponto de vista, do qual não pretendo fazer apontamento teóricos, cito apenas Michael Foucault, filósofo francês que, entre tantos outros, estudou a percepção do controle social sob a ótica do conhecimento e do corpo - desde as sociedades monárquicas primitivas na Mesopotâmia através de seus deuses até a Alemanha nazista através da propaganda legitimada pela ciência positiva, entre tantas outras.
Fonte: http://en.wikipedia.org/wiki/File:Isaac_Asimov_on_Throne.png
Legenda: o ilustrador de ficção científica Rowena Morill representando o autor do livro Fundações, Isaac Asimov, que desconstrói brilhantemente (pelo menos no primeiro volume da série que escutei em forma de audiobook) a percepção de controle através da religião e comércio.
Contudo, me parece que ao longo da história, esse controle foi sempre exercido por instituições particulares associadas a instituições do Estado ou vice-versa e, nesse momento, essa relação está mudando. Com o apelo ao consumo liberal e individualista que mantem o capitalismo (caso tenha dúvidas sobre esse tema sugiro assistir à série Mad Men e ler a entrevista de Jane Maas, autora do livro biográfico (ela mesma é Peggy, a estagiária da série) Mad Women que inspirou a série, clique aqui!), instituições particulares passaram a exercer esse controle, ainda que, sob refúgio do Estado, e talvez, hoje existe uma amálgama entre Estado e particulares muito singularmente.
O artigo de Elizabeth Lorenzotti confunde a atuação do Facebook, uma empresa particular, com a atuação do Estado: o sr. Zuckerberg tem todo o direito, enquanto o Facebook permanecer uma empresa particular, em estabelecer uma política que delimite o uso de imagens de nudez, mesmo que artísticas como as pinturas de Boticelli, como denuncia um dossiê citado no artigo (clique aqui!). Porém, o consumidor do Facebook argumenta contra a censura como se o uso do mesmo constasse na Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão de 1789 como um direito imprescritível, tornando esse consumidor ainda mais vulnerável a esse controle exercido por particulares, como evidencia João Pereira Coutinho na Folha de São Paulo em artigo de 13 de agosto (clique aqui!): A única coisa que o jornalismo 'tradicional' tem a temer não é o fim do papel; é o fim dos leitores.
Por controle da sua vida, uma batalha se trava entre Estado e particulares com tem se revelado pouco a pouco. Vale a pena ler o artigo do inglês The Guardian sobre a polêmica. Clique aqui!
Pouco rimo tanto como faz.
Rimo logo ando com quando,
mirando menos com mais.
Rimo, rimas, miras, rimos,
como se todos rimássemos,
como se todos nós ríssemos,
se amar (rimar) fosse fácil.
Vida, coisa pra ser dita,
como é fita este fardo que me mata.
Mal digo, já meu siso se conflita
com a cisma que, infinita, me dilata.
Reconheço que não aceitei, e raramente o faço quando se diz respeito às decisões institucionais, que a viagem de formatura do 9º ano fosse pouco antes das provas bimestrais, porém, o convite de vocês, meus futuros ex-alunos (poucas vezes isso pareceu tão sólido como agora) fez dessa decisão insensata uma oportunidade fantástica...
A viagem de formatura não trata apenas de uma viagem em si, a própria concepção moderna de viajar esvazia o sentido mais interessante da palavra, o sentido de deixar determinado espaço geográfico e se deslocar a outro, sendo que, no percurso entre os espaços se transfiguram, na mesma medida, os viajantes. Com a revolução nos transportes durante a Revolução Industrial no século XVIII, o sentido de viajar passou a ser deslocar-se entre espaços geográficos o mais rapidamente possível para economizar tempo, porém, sobretudo numa viagem de formatura, o sentido de transfiguração é retomado.
Legenda: mapa mundi mostrando a volta ao mundo em 80 dias que Phileas Foggs, personagem de Júlio Verne, fez em seu livro. Graças à tecnologia, Fogg chegou um minuto adiantada vencendo a aposta.
Legenda: o mapa da Terra Média onde se passa a trilogia do britânico John Ronald Reuel Tolkien: O Senhor dos Anéis. As extensas descrições de Tolkien sobre a viagem em si detalham com riqueza a geografia da Terra Média, um tempo de viagens que já não existe mais...
Pouco antes da viagem muitos estudantes preferiram ir a viagens internacionais durante as férias de verão com os pais do que viajar com seus amigos e professores na sua, agora nossa, formatura. Conversando com colegas professores percebi que não se trata de uma questão financeira, sobretudo numa escola particular, mas o temor de alguns pais de que seus filhos conquistem muita liberdade e com isso se afastem de sua família (como se isso jamais acontecesse). Assim, papai e mamãe covardemente sonegam a vida a seus filhos embriagando-os com tudo que puderem comprar em Nova Iorque.
Realmente uma viagem internacional para os Estados Unidos por exemplo, o destino favorito de quase todos os adolescentes, tem parques aquáticos mais completos, hotéis mais confortáveis, mas uma viagem de formatura possui algo que nenhuma viagem com pais pode oferecer: a convivência com os amigos e professores, finalizando com um discurso, na minha opinião o momento mais importante da vida (talvez apenas vida acadêmica) dos estudantes até aquele momento. Explico.
Uma das coisas mais fascinantes em dar aulas de história para adolescentes é que eles vivem na transição entre a vida de criança e de adultos. Uma das minhas piadas pedagógicas favoritas é os estudantes adolescentes podem agir como crianças quando interessa, por exemplo, quando querem que os pais comprem algo, e também como adultos quando interessa, por exemplo, quando querem ir para baladas. Contudo, essa fase de transição inevitavelmente termina na formação da criança em adulto, e isso acaba sendo ritualizado através da passagem do Ensino Fundamental II para o Ensino Médio, exatamente no momento do discurso de formatura, que no caso da minha escola, acontece na viagem de formatura.
Ainda hoje tenho muitos dilemas sobre ser adulto. Durante a adolescência passamos por muitas decepções e uma das mais fundamentais está relacionada aos pais que deixam de ser os modelos (como se dizia que os pais são os heróis) de seus filhos, constrangendo adolescente a buscar novos modelos, sobretudo entre os seus amigos. Porém, adolescentes procuram no grupo de amigos, muitas vezes identificados através de um apelo à sensibilidade corporal como a audição (grupos de adolescentes que gostem do mesmo tipo de música por exemplo) ou visual (grupos de adolescentes que gostem do mesmo tipo de roupas por exemplo), uma identificação, e não exatamente um modelo que restabeleça a segurança do universo infantil diante da figura dos pais.
Uma orientador pedagógica da usa um termo que gosto muito: quem é o modelo de adulto que possa orientar a vida adulta do adolescente, quem é o "adulto significativo" para os estudantes? O professor.
Entendo que uma viagem de formatura contribui para diminuir esse poder do qual se investe o professor que o distancia do aluno, possibilitando essa identificação do professor como "adulto significativo" pelo aluno, e o discurso tem como objetivo dizer exatamente isso: o que o professor, "adulto significativo" tem a dizer sobre a vida adulta ao estudante?
Em 1988, o mitologista estadunidense Joseph Campbell deu uma entrevista ao jornalista Bill Moyers em qual afirma que a sociedade moderna é desritualizada, mas mais do que isso, os adultos dessa sociedade moderna tem dificuldades em entender o que é ser adulto...
Ler pelo não, quem dera!
Em cada ausência, sentir o cheiro forte
do corpo que se foi,
a coisa que se espera.
Ler pelo não, além da letra,
ver, em cada rima vera, a prima pedra,
onde a forma perdida
procura seus etcéteras.
Desler, tresler, contraler,
enlear-se nos ritmos da matéria,
no fora, ver o dentro e, no dentro, o fora,
navegar em direção às Índias
e descobrir a América.