Reconheço que não aceitei, e raramente o faço quando se diz respeito às decisões institucionais, que a viagem de formatura do 9º ano fosse pouco antes das provas bimestrais, porém, o convite de vocês, meus futuros ex-alunos (poucas vezes isso pareceu tão sólido como agora) fez dessa decisão insensata uma oportunidade fantástica...
A viagem de formatura não trata apenas de uma viagem em si, a própria concepção moderna de viajar esvazia o sentido mais interessante da palavra, o sentido de deixar determinado espaço geográfico e se deslocar a outro, sendo que, no percurso entre os espaços se transfiguram, na mesma medida, os viajantes. Com a revolução nos transportes durante a Revolução Industrial no século XVIII, o sentido de viajar passou a ser deslocar-se entre espaços geográficos o mais rapidamente possível para economizar tempo, porém, sobretudo numa viagem de formatura, o sentido de transfiguração é retomado.
Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Around_the_World_in_Eighty_Days_map.png
Fonte: http://artofnarrative.blogspot.com.br/2012/01/francis-donkin-bedford-peter-and-wendy.html
Legenda: ilustração do britânico Francis Donkin Bedford para a primeira versão do livro Peter e Wendy (1911) de James Matthew Barrie.
Ainda hoje tenho muitos dilemas sobre ser adulto. Durante a adolescência passamos por muitas decepções e uma das mais fundamentais está relacionada aos pais que deixam de ser os modelos (como se dizia que os pais são os heróis) de seus filhos, constrangendo adolescente a buscar novos modelos, sobretudo entre os seus amigos. Porém, adolescentes procuram no grupo de amigos, muitas vezes identificados através de um apelo à sensibilidade corporal como a audição (grupos de adolescentes que gostem do mesmo tipo de música por exemplo) ou visual (grupos de adolescentes que gostem do mesmo tipo de roupas por exemplo), uma identificação, e não exatamente um modelo que restabeleça a segurança do universo infantil diante da figura dos pais.
Uma orientador pedagógica da usa um termo que gosto muito: quem é o modelo de adulto que possa orientar a vida adulta do adolescente, quem é o "adulto significativo" para os estudantes? O professor.
Entendo que uma viagem de formatura contribui para diminuir esse poder do qual se investe o professor que o distancia do aluno, possibilitando essa identificação do professor como "adulto significativo" pelo aluno, e o discurso tem como objetivo dizer exatamente isso: o que o professor, "adulto significativo" tem a dizer sobre a vida adulta ao estudante?
Em 1988, o mitologista estadunidense Joseph Campbell deu uma entrevista ao jornalista Bill Moyers em qual afirma que a sociedade moderna é desritualizada, mas mais do que isso, os adultos dessa sociedade moderna tem dificuldades em entender o que é ser adulto...
A viagem de formatura não trata apenas de uma viagem em si, a própria concepção moderna de viajar esvazia o sentido mais interessante da palavra, o sentido de deixar determinado espaço geográfico e se deslocar a outro, sendo que, no percurso entre os espaços se transfiguram, na mesma medida, os viajantes. Com a revolução nos transportes durante a Revolução Industrial no século XVIII, o sentido de viajar passou a ser deslocar-se entre espaços geográficos o mais rapidamente possível para economizar tempo, porém, sobretudo numa viagem de formatura, o sentido de transfiguração é retomado.
Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Around_the_World_in_Eighty_Days_map.png
Legenda: mapa mundi mostrando a volta ao mundo em 80 dias que Phileas Foggs, personagem de Júlio Verne, fez em seu livro. Graças à tecnologia, Fogg chegou um minuto adiantada vencendo a aposta.
Legenda: o mapa da Terra Média onde se passa a trilogia do britânico John Ronald Reuel Tolkien: O Senhor dos Anéis. As extensas descrições de Tolkien sobre a viagem em si detalham com riqueza a geografia da Terra Média, um tempo de viagens que já não existe mais...
Pouco antes da viagem muitos estudantes preferiram ir a viagens internacionais durante as férias de verão com os pais do que viajar com seus amigos e professores na sua, agora nossa, formatura. Conversando com colegas professores percebi que não se trata de uma questão financeira, sobretudo numa escola particular, mas o temor de alguns pais de que seus filhos conquistem muita liberdade e com isso se afastem de sua família (como se isso jamais acontecesse). Assim, papai e mamãe covardemente sonegam a vida a seus filhos embriagando-os com tudo que puderem comprar em Nova Iorque.
Realmente uma viagem internacional para os Estados Unidos por exemplo, o destino favorito de quase todos os adolescentes, tem parques aquáticos mais completos, hotéis mais confortáveis, mas uma viagem de formatura possui algo que nenhuma viagem com pais pode oferecer: a convivência com os amigos e professores, finalizando com um discurso, na minha opinião o momento mais importante da vida (talvez apenas vida acadêmica) dos estudantes até aquele momento. Explico.
Uma das coisas mais fascinantes em dar aulas de história para adolescentes é que eles vivem na transição entre a vida de criança e de adultos. Uma das minhas piadas pedagógicas favoritas é os estudantes adolescentes podem agir como crianças quando interessa, por exemplo, quando querem que os pais comprem algo, e também como adultos quando interessa, por exemplo, quando querem ir para baladas. Contudo, essa fase de transição inevitavelmente termina na formação da criança em adulto, e isso acaba sendo ritualizado através da passagem do Ensino Fundamental II para o Ensino Médio, exatamente no momento do discurso de formatura, que no caso da minha escola, acontece na viagem de formatura.
Mas crescer é muito difícil...
Legenda: ilustração do britânico Francis Donkin Bedford para a primeira versão do livro Peter e Wendy (1911) de James Matthew Barrie.
Ainda hoje tenho muitos dilemas sobre ser adulto. Durante a adolescência passamos por muitas decepções e uma das mais fundamentais está relacionada aos pais que deixam de ser os modelos (como se dizia que os pais são os heróis) de seus filhos, constrangendo adolescente a buscar novos modelos, sobretudo entre os seus amigos. Porém, adolescentes procuram no grupo de amigos, muitas vezes identificados através de um apelo à sensibilidade corporal como a audição (grupos de adolescentes que gostem do mesmo tipo de música por exemplo) ou visual (grupos de adolescentes que gostem do mesmo tipo de roupas por exemplo), uma identificação, e não exatamente um modelo que restabeleça a segurança do universo infantil diante da figura dos pais.
Uma orientador pedagógica da usa um termo que gosto muito: quem é o modelo de adulto que possa orientar a vida adulta do adolescente, quem é o "adulto significativo" para os estudantes? O professor.
Entendo que uma viagem de formatura contribui para diminuir esse poder do qual se investe o professor que o distancia do aluno, possibilitando essa identificação do professor como "adulto significativo" pelo aluno, e o discurso tem como objetivo dizer exatamente isso: o que o professor, "adulto significativo" tem a dizer sobre a vida adulta ao estudante?
Em 1988, o mitologista estadunidense Joseph Campbell deu uma entrevista ao jornalista Bill Moyers em qual afirma que a sociedade moderna é desritualizada, mas mais do que isso, os adultos dessa sociedade moderna tem dificuldades em entender o que é ser adulto...




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