"A escrita metódica me distrai da presente condição dos homens. A certeza de que tudo está escrito nos anula ou faz de nós fantasmas. Conheço distritos em que os jovens se prosternam diante dos livros e beijam com barbárie as páginas, mas não sabem decifrar uma única letra. As epidemias, as discórdias heréticas, as peregrinações que inevitavelmente degeneram em banditismo, dizimaram a população. Creio ter mencionado os suicídios, cada ano mais frequentes. Talvez a velhice e o medo me enganem, mas suspeito que a espécie humana – a única – está em vias de extinção e que a Biblioteca perdurará: iluminada, solitária, infinita, perfeitamente imóve, armada de volumes preciosos, inútil, incorruptível, secreta”
Jorge Luís Borges em "Ficções"
sexta-feira, 29 de maio de 2009
quarta-feira, 27 de maio de 2009
Sobre a escrita - Necro-filomante (II)

Autoria reprodução
Fonte: http://eightiesology.com/
Se em determinado momento a escrita surgiu para mim como registro informativo que pudesse remontar vivências importantes reativando a memória como fez a personagem fictíca de Mary Shelley, Victor Frankenstein, tentando controlar o próprio deus Cronos através de sua obssessão científica reanimando partes de cadáveres para enfim controlar a vida, hoje, a prática da escrita agregou outras significações.
Quando a busca por auto-conhecimento se afastou de minhas práticas de disciplina filosófica, me deparei com tormentosas dúvidas, pois após muitos anos, minhas convicções mais profundas se estilhaçavam irreparavelmente. O vácuo deixado por essa ruptura passou a pressionar-me, quase inconscientemente eu ansiava por algo, e assim, depois de algum tempo, a arte, manifesta através da literatura e o cinema, surgiu para ocupar esse espaço, convertendo-se não apenas em meras manifestações histórico-culturais, mas em epifanias que recolhi aos cacos para recompor a vida.
Desse modo, a arte me insuflou novamente a vida, e a escrita tornou-se a prática não apenas de recordar o passado, mas de ritualizá-lo, além de reconstruir a realidade. A escrita tornou-se minha religião.
segunda-feira, 25 de maio de 2009
terça-feira, 19 de maio de 2009
segunda-feira, 18 de maio de 2009
quarta-feira, 13 de maio de 2009
sábado, 9 de maio de 2009
"Play it again, Sam..."
Pain of Salvation - Song For The Innocent
This world is what we can give
Scarred from the way we lived
All those dreams we shared for you
How I wish they could come true
We dreamed of a world in peace
But killed for a life of ease
Now we leave the wounds for you
What else can the dying do?
...all those dreams we shared for you
God, I wish them to be true...
This world is what we can give
Scarred from the way we lived
All those dreams we shared for you
How I wish they could come true
We dreamed of a world in peace
But killed for a life of ease
Now we leave the wounds for you
What else can the dying do?
...all those dreams we shared for you
God, I wish them to be true...
quarta-feira, 6 de maio de 2009
Midiafobia - Fumar vira obrigação para ampliar arrecadação na China
Fonte: Estado de São Paulo
Data: 05 de maio de 2009
Não se trata propriamente de uma reportagem, mas de uma fotografia de cerca de 1/8 de página com uma legenda que transcervo na íntegra:
"Chinesa fuma viajando de moto. Na província de Hubei, na região central da China, funcionários públicos que se recusarem a fumar uma cota determinada de cigarros serão multados. A nova regulamentação, do governo da cidade de Gong'an, determina os padrões para o número de cigarros consumidos e as marcas que devem ser compradas pelo funcionários. No total, todas as agências governamentais e instituições da província devem consumir 230 mil maços de cigarros produzidos na província por ano, ou 4 milhões de yuans (R$ 1,2 milhão)"
Muito apropriadamente essa imagem foi publicada na caderno economia do referido jornal, o que me inclinou a interpretar a notícia sob determinada óptica, porém, é preciso transcender a reflexão simplista sobre o consumo obrigatório de cigarros como uma alternativa à crise financeira que se abateu sobre as economias globais e aparentemente passou desapercebida pelo país asiático, que, conforme noticiado nas últimas semanas, se tornou o maior parceiro comercial do Brasil superando os Estados Unidos.
Há algumas semanas o governo do estado de São Paulo proibiu o fumo em estabelecimentos fechados de uso coletivo, gerando muita polêmica no que diz respeito a garantia das liberdades individuais previstas constitucionalmente, por outro, lado o governo chinês parece manter uma autoridade capilar entre sua população, pois a medida não trata apenas do simples vício do consumo de cigarro alimentando economicamente poderosas corporações e o empresariado multi-nacional interessado no lucro, mas da obrigatoriedade do consumo de certas substâncias comprovadamente cancerígenas alimentando o próprio Estado chinês.
Tudo indica que a autoridade conquistada pelo Estado chinês na imagem de Mao-Tsé-Tung ainda possui um enorme poder de coesão social, revelando uma nova configuração do regime de consumo no qual uma ideologia profundamente enraizada se apropria da cultura milenar para exercer o poder de intervenção estatal em suas consequências mais evidentes e imediatas como no desenvolvimento de graves enfermidades respiratórias.
Data: 05 de maio de 2009
Não se trata propriamente de uma reportagem, mas de uma fotografia de cerca de 1/8 de página com uma legenda que transcervo na íntegra:
"Chinesa fuma viajando de moto. Na província de Hubei, na região central da China, funcionários públicos que se recusarem a fumar uma cota determinada de cigarros serão multados. A nova regulamentação, do governo da cidade de Gong'an, determina os padrões para o número de cigarros consumidos e as marcas que devem ser compradas pelo funcionários. No total, todas as agências governamentais e instituições da província devem consumir 230 mil maços de cigarros produzidos na província por ano, ou 4 milhões de yuans (R$ 1,2 milhão)"
Muito apropriadamente essa imagem foi publicada na caderno economia do referido jornal, o que me inclinou a interpretar a notícia sob determinada óptica, porém, é preciso transcender a reflexão simplista sobre o consumo obrigatório de cigarros como uma alternativa à crise financeira que se abateu sobre as economias globais e aparentemente passou desapercebida pelo país asiático, que, conforme noticiado nas últimas semanas, se tornou o maior parceiro comercial do Brasil superando os Estados Unidos.
Há algumas semanas o governo do estado de São Paulo proibiu o fumo em estabelecimentos fechados de uso coletivo, gerando muita polêmica no que diz respeito a garantia das liberdades individuais previstas constitucionalmente, por outro, lado o governo chinês parece manter uma autoridade capilar entre sua população, pois a medida não trata apenas do simples vício do consumo de cigarro alimentando economicamente poderosas corporações e o empresariado multi-nacional interessado no lucro, mas da obrigatoriedade do consumo de certas substâncias comprovadamente cancerígenas alimentando o próprio Estado chinês.
Tudo indica que a autoridade conquistada pelo Estado chinês na imagem de Mao-Tsé-Tung ainda possui um enorme poder de coesão social, revelando uma nova configuração do regime de consumo no qual uma ideologia profundamente enraizada se apropria da cultura milenar para exercer o poder de intervenção estatal em suas consequências mais evidentes e imediatas como no desenvolvimento de graves enfermidades respiratórias.
Carta aberta aos meus futuros ex- alunos - ... viver não é preciso..." - Fernando Pessoa
Explico.
Realmente, na minha vida prática muitos dos aprendizados escolares não tem função, por isso, penso a escola com dois tipos básicos de ensino:
Assim, entendo que todo conhecimento escolar está estruturado em torno de uma demanda social que é imposta desde o nascimento, como a necessidade da mãe trabalhar para custear as despesas domiciliares e deixar os filhos numa instituição de educação infantil, a obrigatoriedade legal de permancer numa instituição de ensino fudamental e médio ao longo da idade escolar, a possibilidade de conquistar melhor posição profissional cursando uma especialidade numa instituição de ensino superior (que muitas vezes leva a uma instituição intermediária visando melhor aproveitamento nos concursos de aprovação para ingresso nessas instituições), a demanda por atualizações no mercado de trabalho adquiridas ao longo de cursos de especialização ou pós-graduação em instituições de ensino superior pós-graduado, etc.
Justamente isso é o que chamo de navegabilidade: esses conhecimentos, que não necessariamente tem caráte escolar, conjugando essas demandas sociais e permitindo acessar diversos aspectos da dinâmica da vida moderna como trabalho, relacionamentos e consumo. Nesse sentido, a educação escolar cumpre um papel importante, talvez até indispensável, na formação do ser humano do século XXI.
Contudo, os aspectos culturais a que estamos condicionados compõe a tessitura de uma realidade imaginada, uma abstração construída em torno desses próprios aspectos culturais orientados pelas mesmas demandas sociais ocultadas sob o signo ideológico, em outras palavras, a educação escolar atende à sociedade não apenas em suas demandas técnicas mas também criando mecanismos de controle através de valores inoculados ao longo do processo educacional como moralidade e ética.
Deixo a vocês pensar quanto esse processo é castrador, que valores são alimentados por essa dinâmica educacional?
Realmente, na minha vida prática muitos dos aprendizados escolares não tem função, por isso, penso a escola com dois tipos básicos de ensino:
- Primeiramente aquele que terá validade prática até o fim dos nossos dias e isso pode variar de pessoa para pessoa, por exemplo, para a maior parte das pessoas a regra de três em mantemática é de utilidade fundamental , para poucos a gramática terá a mesma importância.
- Em segundo aquele conhecimento que terá validade temporária para elaboração de avaliações bimestrais, vestibulares, pós-graduações e que ao longo do tempo será esquecido não por ignorância, mas por pura falta de prática como os números complexos em matemática.
Assim, entendo que todo conhecimento escolar está estruturado em torno de uma demanda social que é imposta desde o nascimento, como a necessidade da mãe trabalhar para custear as despesas domiciliares e deixar os filhos numa instituição de educação infantil, a obrigatoriedade legal de permancer numa instituição de ensino fudamental e médio ao longo da idade escolar, a possibilidade de conquistar melhor posição profissional cursando uma especialidade numa instituição de ensino superior (que muitas vezes leva a uma instituição intermediária visando melhor aproveitamento nos concursos de aprovação para ingresso nessas instituições), a demanda por atualizações no mercado de trabalho adquiridas ao longo de cursos de especialização ou pós-graduação em instituições de ensino superior pós-graduado, etc.
Justamente isso é o que chamo de navegabilidade: esses conhecimentos, que não necessariamente tem caráte escolar, conjugando essas demandas sociais e permitindo acessar diversos aspectos da dinâmica da vida moderna como trabalho, relacionamentos e consumo. Nesse sentido, a educação escolar cumpre um papel importante, talvez até indispensável, na formação do ser humano do século XXI.
Contudo, os aspectos culturais a que estamos condicionados compõe a tessitura de uma realidade imaginada, uma abstração construída em torno desses próprios aspectos culturais orientados pelas mesmas demandas sociais ocultadas sob o signo ideológico, em outras palavras, a educação escolar atende à sociedade não apenas em suas demandas técnicas mas também criando mecanismos de controle através de valores inoculados ao longo do processo educacional como moralidade e ética.
Deixo a vocês pensar quanto esse processo é castrador, que valores são alimentados por essa dinâmica educacional?
terça-feira, 5 de maio de 2009
Carta aberta aos meus alunos - "Navegar é preciso..." - Fernando Pessoa
Mais do que um trabalho, cuidar de vocês ao longo desse pouco tempo que estamos juntos, afinal, que outra função exerce um educador senão cuidar, me tem permitido reflexões mais amplas como por exemplo sobre a função do educador e da escola ao longo do processo educativo, as variáveis curriculares que compõe um bom currículo educacional, etc. Contudo, nas últimas semana tenho me detido nas mesmas reflexões acerca da minha própria educação escolar: qual meu comportamento enquanto aluno de quinta série, quais minhas disicplinas favoritas, quais a relação com meus colegas de classe.
Reconheço muitas diferenças entre nós como o alto poder aquisito de seus pais, a cultura tão distinta legada pelas suas tradições religioso-familiares e a época em que vivem, o alvorecer do século XXI. Assim, uma análise de tantas diferenças requer muitos cuidados, sobretudo quando meus referenciais são lacrados por carvalho antigo fermentando alcoolicamente o vinho que é minha memória.
Minha vida escolar se divide em três momentos distintos: primeiro ao quinto ano do ensino fundamental, quando era um aluno quieto e estudioso sempre bem graduado em meus exames escolares; do sexto ao oitavo ano do ensino fundamental, quando as avaliações passaram a evidenciar um aluno mediano; e, por fim, após a conclusão do ensino fundamental no Centro Educacional SESI e o ingresso no colégio São Domingo para cursar o ensino médio, quando finalmente, depois de anos consegui me tornar um aluno mediano para fraco, chegando a ficar de exame em física em pleno ano de formatura.
Nessa época, da mesma maneira que muitos de vocês se não o fazem um dia farão, me questionei qual o sentido de tantos anos de ensino escolar quando na minha vida cotidiana, e mesmo dentro de minha escolha profissional, muitos desses conteúdos não serão importantes. Retornando ao ensino fundamental, voltei a essa questão refletindo sob uma nova perspectiva, a perspectiva de professor e penso que a educação desempenha um papel básico na formação do ser humano: a navegabilidade.
Continua...
Reconheço muitas diferenças entre nós como o alto poder aquisito de seus pais, a cultura tão distinta legada pelas suas tradições religioso-familiares e a época em que vivem, o alvorecer do século XXI. Assim, uma análise de tantas diferenças requer muitos cuidados, sobretudo quando meus referenciais são lacrados por carvalho antigo fermentando alcoolicamente o vinho que é minha memória.
Minha vida escolar se divide em três momentos distintos: primeiro ao quinto ano do ensino fundamental, quando era um aluno quieto e estudioso sempre bem graduado em meus exames escolares; do sexto ao oitavo ano do ensino fundamental, quando as avaliações passaram a evidenciar um aluno mediano; e, por fim, após a conclusão do ensino fundamental no Centro Educacional SESI e o ingresso no colégio São Domingo para cursar o ensino médio, quando finalmente, depois de anos consegui me tornar um aluno mediano para fraco, chegando a ficar de exame em física em pleno ano de formatura.
Nessa época, da mesma maneira que muitos de vocês se não o fazem um dia farão, me questionei qual o sentido de tantos anos de ensino escolar quando na minha vida cotidiana, e mesmo dentro de minha escolha profissional, muitos desses conteúdos não serão importantes. Retornando ao ensino fundamental, voltei a essa questão refletindo sob uma nova perspectiva, a perspectiva de professor e penso que a educação desempenha um papel básico na formação do ser humano: a navegabilidade.
Continua...
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