domingo, 20 de dezembro de 2009

Midiofobia - A ascensão dos mal-humorados

Fonte: Folha de São Paulo
Data:
30 de novembro de 2009

Com a chegada do final do ano escolar, a procura por outras oportunidades profissionais me levaram a enviar muitos currículos para outras instituições de ensino e realizar diversas entrevistas. Essa procura é bastante desgastante por isso procuro dispersar meu esforço procurando detalhes interessantes nessas entrevistas talvez o maior deles seja analisar como ocorre o processo de seleção de cada empresa. Em busca de uma boa contratação, o contratante se utiliza de outros profissionais e métodos das mais diversas áreas para melhor compreender o contratado, que por sua vez é inquirido por horas sobre suas mas profundas percepções. Em uma dessas entrevistas respondia a um questionário para que definisse o meu "astral", consegui apenas responder "realista".

Num ensaio publicado na primeira página da mais recente edição do New York Times traduzido pela Folha de São Paulo entitulado "A ascensão dos mal-humorados" (sem autor, comentários devem ser enviados para nyweekly@nytimes.com), se relaciona o estouro das bolhas hipotecárias nos Estados Unidos, e o consequente colapso financeiro deste ano, com a difusão nos Estados Unidos de uma cultura otimista demais que acaba por não possui embasamento na realidade.

Entre os articuladores dessa idéia estão Barbara Ehrenreich, que recentemente publicou um livro sobre o assunto, "Bright-sided: How the Relentless Promoion of Positive Thinking Has Undermined America" ("O Lado Bom: Como a Incansável Promoção do Pensamento Positivo Minou a América") e Alina Tugend, que afirmou ao "Times": "Estaremos caindo na armadilha de acreditar que nosso trabalho e, de fato nossas vidas, devem ser sempre fascinantes e consumistas?".

As percepções do grupo que se auto-intitulou "Os negativos" possui mais do que um viés puramente econômico, mas um aspecto cultural importante: na última década não apenas os Estados Unidos como todo mercado editorial está inundado de livros de auto-ajuda que prometem a felicidade através de do pensamento positivo, essa tendência (tendência me parece a palavra mais adequada) reforçada ao longo dos anos desenvolveu uma cultura de otimismo que, além de estimular um gradual descolamento com a realidade prática, tem se conformado numa cultura moralizante, na qual o sucesso e a felicidade se confundem para justificartoda e qualquer ato.


Autoria reprodução
Fonte: http://www.toutlecine.com/
Legenda: cena do filme "Pequena Miss Sunshine" (2006) dirigido por Jonathan Dayton e Valerie Faris

A felicidade se tornou uma ordem. Hoje, é proibido ser triste.

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