quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Midiofobia - Escolas passam atividades até na hora do recreio

Fonte: http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20110213/not_imp678897,0.php
Data: 13 de fevereiro de 2011

Mais um exemplo de reportagem "politicamente correta" sobre educação no Brasil, dessa vez no Estado de São Paulo. Não me incomoda o teor da reportagem que trata de alçgo muito interessante na nossa sociedade sobre o qual já escrevi: a impossibilidade do imprevisiível como algo positivo, ou como dizem os norte-americanos, "serendipity" (palavra que descobri em português existe, é serendipidade).

Como profissional de uma grande escola particular da cidade de São Paulo, percebo que cada vez mais as crianças se tornam estudantes integralmente, ocupando-se com a escola durante a manhã e diversas outras atividades como natação, tênis, futebol, inglês, judô, durante a tarde, fazendo com que suas agendas sejam tão cheias quanto de seus pais executivos. Me parece muito óbvio que os pais desejam para seus filhos a melhor educação possível, porém são incapazes de reconhecer que seus filhos são crianças e como tais precisam viver o que é apropriado à sua idade.

A reportagem do Estado de São Paulo, que critico não pela reportagem em si, que é muito interessante para refletir sobre o chamado "intervalo orientado" que cada vez mais se torna comum em grandes escolas, trata de outra atividade para a já lotada agenda das crianças: brincadeiras orientadas. Ao contrário do que sugere o título, não trata apenas de atividade na hora do recreio, mas uma orientação diferenciada para o momento da recreação.

Como é possível constatar observando as crianças na escola, muitas não tem habilidades motoras consideras comuns até alguns anos atrás, como habilidade de pular corda ou jogar bola, isso porque a relação da criança com o brincar se alterou muito nos últimos anos com o desenvolvimento de jogos eletrônicos, alterando radicalmente a percepção de brincar. Assim, me parece válido que as escolas ofereçam oportunidades de ensinar a criança não a brincar, mas a desenvolver outros aspectos motores pouco trabalhados nos brinquedos atuais através de brincadeiras, desde que essas oportunidade não sejam estabelecidas em currículo (a exceção da educação física) ou obrigatórias durante o recreio, que como a palavra muito bem explica, é o momento não da estudar mas de "recreção" (momento de diversão ou prazer).

Escrito o óbvio, me chama a atenção que a projeção da imagem dos pais sobre seus filhos está criando uma geração que tem dificuldades em lidar com sua própria infância, muitas vezes suprimindo as carências específicas da idade e aprendendo que devem se comportar de maneira adulta. Isso é extremamente preocupante porque os adultos recompensam crianças com esse tipo de atitude: "Que lindo, já se veste como um homenzinho! Vai ganhar um doce!", e cada vez menos compreendem como age e como se deve reagir a um comportamento de criança : "Devemos brigar sim, mas paciência se ele quebrou o vaso, ele é apenas uma criança!".

Vivendo num século que herda o legado do liberalismo econômico do século XX refletido em sucessivas guerras por petróleo e crises financeiras de dimensões globais, e da liberdade moral promovida pela geração dos anos 60 e 70 dos quais morreram todos os heróis afogados em seu próprio vômito ou em múltiplas overdoses, a humanidade do admirável século XXI vive num cárcere chamado liberdade.

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