terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Carta aberta aos meus futuros ex-alunos - "Gustavo Ioschpe"

Apesar de não escrever há muito tempo, tenho certeza do quanto refleti sobre tantos acontecimentos na minha profissão nos últimos tempos...

Talvez não seja a maneira mais convidativa para se iniciar um debate de início de ano escolar com esse assunto, mas estou há tempos ensaiando um post sobre Gustavo Ioschpe, com a leitura de algumas colunas do economista na revista Veja, achei que essa fosse uma boa oportunidade.

Antes de mais nada achei que seria importante entender quem é Ioschpe, com a ajuda de alguns oráculos como a Wikipédia: economista gaúcho e membro do Conselho de Administração do grupo RBS, afiliado da Rede Globo no Rio Grande do Sul. Então com qual autoridade Ioschpe escreve sobre educação?

O colunista é participante e fundador de diversas ONGs ligadas à educação como o Compromisso Todos pela Educação e membro dos Conselhos do Instituto Ayrton Senna, Instituto Ecofuturo (Grupo Suzano), Fundação Iochpe e Fundação Padre Anchieta, mantenedora da TV Cultura. Não tenho conhecimento profundo sobre nenhuma delas, mas isso explica as críticas bastante esclarecidas que Ioschpe faz acerca da situação da educação nacional, pois  sua atuação junto as ONGs somada à sua formação nas ciências econômicas geram uma concepção estrutural sobre a educação brasileira.


No artigo "Se eu fosse prefeito" (clique aqui!), o economista discorre sobre algumas poucas ações que poderiam fazer a diferença diante de tantas promessas de campanha. Iochpe, fundamentalmente defende mudanças que façam a diferença no processo de comunicação dentro da estrutura escola em diversos níveis, talvez um dos maiores problemas pelo menos da instituição em que trabalho, particular.

- Forjar alianças: perfeito! "A maioria da população acha que a escola do filho é boa e não demanda melhorias. Os sindicatos de professores e funcionários, muito numerosos, só aceitam mudanças que envolvam maiores salários e menos trabalho". Há uma diversgência entre diversos setores da sociedade sobre a educação, levando a pouca movbilização. Não por acaso, as escolas com os melhores resultados nas avaliações nacionais em todos os segmentos são particulares. a sugestão de Ioschpe de dispor na entrada da escola a pontuação no IDEB é bastante interessante, no pouco tempo que trabalho como professor percebi que alguns estudantes reconhecem atitudes incorretas quando se chama sua atenção em aula, mas, quando a estratégia não funciona, a exposição dessas atitudes incorretas para a classe é bastante efetiva.

 Intervir no que acontece no dia a dia das salas de aula: o modelo chinês apresentado tem sido de maneira bastante tímida, até pela disponibilidade de tempo dessas reuniões, aplicado em reuniões de área na instituição escolar para qual trabalho, com resultados senão efetivos na atuação dentro da sala de aula, ao menos como estímulo e reflexão para outros professores. Não raramente, a troca de experiências entre professores intermediada por diretores, coordenadores ou assessores, é entendida como cerceamento da liberdade pedagógica do docente, estimulando a competitividade entre os próprios docentes. Essa mentalidade se explica parcialmente pela falta de estabilidade profissional da categoria a despeito das leis trabalhistas, mas sobretudo por uma mentalidade sindicalista pseudo esquerdista dos docentes que consideram a si próprios como mais importantes do que a própria disciplina ministrada, que o segmento com o qual trabalha, do que a instituição para que trabalha e, sobretudo, para o estudante que educa, pois, em alguma medida, a uniformização de algumas práticas peremitem que se estabeleça maior controle sobre o processo educativo, facilitando intervenções reparadoras sobre o mesmo.

- Fazer monitoramento constante e intervenção rápida: sobre a atuação do decente em tarefas de casa, e Iochpese foca bastante na área de exatas, o sentido da palavra "exercício" é ainda mais próximo ao sentido literal, o maior entrave são as lições desafiadoras. Talvez a grande crise do sistema educacional hoje possa ser resumida a uma única palavra: curiosidade. Uma música de uma das minhas bandas favoritas, Pain of Salvation, sintetiza minha concepção:

"We believe it's personality,
but it's really sexuality.
We put faith in love and honesty,
but the stuff that makes our history and sets us free
is curiosity."


Cada vez mais o encanto do aluno se perde à medida que o interesse por outros assuntos fora da escola se multiplicam, sobretudo com o desenvolvimento de novas tecnologias, muitas vezes não assimiladas, ou assimiladas com uma mentalidade obsoleta pela escola. Intervir rapidamente é ainda menos complexo do que encantar um estudante e pouco se discute esse encantamento.

- Ter diretores qualificados em todas as escolas: diante da realidade de escola particular, pouco posso afirma acerca da atuação dos diretores que em geral se mostram muito presentes, sobretudo junto às famílias, mas ainda estão encarregados de muitas responsabilidades administrativas. O que mais interessa nesse ponto é o quanto se responsabiliza o professor pelo processo educativo, deixando de lado a atuação da família, monitores, coordenador, diretor, e até certo ponto, auxiliares, faxineiros, bedéis. A escola é uma instituição educacional e o deve ser em todos os aspectos. Iochpese refere-se, e com bastante propriedade, à escola pública, que diante da estrutura burocrática de cargos públicos muitas vezes não consegue selecionar profissionais comprometidos com a aspecto pedagógico da sua profissão, mas com a estabilidade financeira que essa profissão oferece.

- Focar a alfabetização: mais do mesmo, tanto português quanto matemática são a base sobre as quais todas as outras disciplinas se fundam, daí a grande dificuldade dos estudantes em química e física, que tratam de maneira ainda mais profunda a interepretacão de enunciados (português) e a resolução de problemas (matemática).

 - Criar e comunicar expectativas altas:  gosto do ditado "Não sabendo que era impossível, ele fez". Baixas expectativas evitam frustrações, mas geram imobilidade.


Uma última reflexão, talvez um tanto quanto preconceituosa: requer muita habilidade e adaptabilidade para que um colunista ligado a duas das maiores instituições de comunicação do Brasil, como a Rede Globo e a revista Veja, seja capaz de escrever com tanta autoridade. Ainda não o vi escrever sobre educação e comunicação de massa, mas é preciso reconhecer seu mérito.

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