Realmente, na minha vida prática muitos dos aprendizados escolares não tem função, por isso, penso a escola com dois tipos básicos de ensino:
- Primeiramente aquele que terá validade prática até o fim dos nossos dias e isso pode variar de pessoa para pessoa, por exemplo, para a maior parte das pessoas a regra de três em mantemática é de utilidade fundamental , para poucos a gramática terá a mesma importância.
- Em segundo aquele conhecimento que terá validade temporária para elaboração de avaliações bimestrais, vestibulares, pós-graduações e que ao longo do tempo será esquecido não por ignorância, mas por pura falta de prática como os números complexos em matemática.
Assim, entendo que todo conhecimento escolar está estruturado em torno de uma demanda social que é imposta desde o nascimento, como a necessidade da mãe trabalhar para custear as despesas domiciliares e deixar os filhos numa instituição de educação infantil, a obrigatoriedade legal de permancer numa instituição de ensino fudamental e médio ao longo da idade escolar, a possibilidade de conquistar melhor posição profissional cursando uma especialidade numa instituição de ensino superior (que muitas vezes leva a uma instituição intermediária visando melhor aproveitamento nos concursos de aprovação para ingresso nessas instituições), a demanda por atualizações no mercado de trabalho adquiridas ao longo de cursos de especialização ou pós-graduação em instituições de ensino superior pós-graduado, etc.
Justamente isso é o que chamo de navegabilidade: esses conhecimentos, que não necessariamente tem caráte escolar, conjugando essas demandas sociais e permitindo acessar diversos aspectos da dinâmica da vida moderna como trabalho, relacionamentos e consumo. Nesse sentido, a educação escolar cumpre um papel importante, talvez até indispensável, na formação do ser humano do século XXI.
Contudo, os aspectos culturais a que estamos condicionados compõe a tessitura de uma realidade imaginada, uma abstração construída em torno desses próprios aspectos culturais orientados pelas mesmas demandas sociais ocultadas sob o signo ideológico, em outras palavras, a educação escolar atende à sociedade não apenas em suas demandas técnicas mas também criando mecanismos de controle através de valores inoculados ao longo do processo educacional como moralidade e ética.
Deixo a vocês pensar quanto esse processo é castrador, que valores são alimentados por essa dinâmica educacional?

Um comentário:
Muito bem, sr. da caixa, "Navegar é preciso, viver não é preciso" remonta a expansão marítima portuguesa, em que a navegação tornou-se ciência exata e, portanto, navegar se tornou técnica de precisão, dados os instrumentos acurados de medição das direções apontando para todos os horizontes. Viver já não é tão exato, por isso não é preciso. Genial, não? Você é muito honesto nas suas reflexões pedagógicas, o que traz um frescor idealista de tempos que já não voltam. E as utopias são deliciosas, neste tempo instantâneo de tecnocratas. Minha contribuição, pode ser? A educação é essencialmente socializadora, a segunda socialização quando a família funciona como primeira, a única quando não há família alguma. Para onde estamos indo é a pergunta primordial neste sentido. Um maravilhoso sociólogo alemão, da Escola de Frankfurt, dizia para não nos enganarmos: a falta de direção já é uma direção, a falta de política é uma política clara...
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