domingo, 26 de julho de 2009

Midiofobia - Em meio a epidemia, estudantes de Medicina deixam hospital de Passo Fundo

Fonte: Zero Hora
Data: 22 de julho de 2009

Autoria markjarvisphotography
Fonte: http://www.flickr.com/photos/markjarvisphotography/2934442453/
Legenda: Grafite londrino na Leake Street

O flagrante da repórter Marielise Ferreira do jornal Zero Hora se deu na cidade de Passo Fundo, uma das atingidas pela nova variação da gripe A, H1N1: cerca de 50 residentes de medicina da Universidade de Passo Fundo abandonaram seus postos no Hospital São Vicente.

Até o dia da reportagem, 22 de julho de 2009, o hospital atendera 1.125 casos relacionados à gripe, 57 casos suspeitos, entre os quais o de três médicos e três enfermeira da própria instituição, e confirmara três mortes relacionadas ao influenza A H1N1. O diretor médico do hospital Rudah Jorge desabafou "Nem preciso comentar como vai fazer falta".

Na sociedade em que vivemos atualmente a informação é um artifício muito importante, senão determinante, para a existência prática do ser humano, e, ainda que a terceira revolução industrial disparada com o pós-guerra e guerra fria tenha realizado progressos notáveis no que diz respeito à comunicação, nossa capacidade de informa-se está cada vez mais susceptível a arbitrariedades como a manipulação da informação por grandes conglomerados empresariais multinacionais como as empresas do cidadão Rupert "Kane" Murdoch.

Lembro-me que certa vez me revoltei com um e-mail denunciando irregularidades em projetos de lei que tramitavam pela câmara dos deputados, e, indignado escrevi a diversos deles. Um desses deputados dignou-se a responder-me como bom servidor público, desmentindo as acusações através de links do portal da câmara dos deputados (http://www2.camara.gov.br/) que demonstravam o arquivamento daquele projeto de lei. Entre suas frases, aquela que mais me chamou a atenção foi: "Vocês consomem qualquer informação divulgada pela mídia".

Desculpei-me, sugerindo que a câmara dos deputados criasse um portal para debater o que está em pauta nos grandes órgãos de mídia do país, pois um povo que não dialoga com seus representantes governistas se mantém refém, mas não obtive resposta.

Desse dia em diante passei a checar as informações, sobretudo aquelas que recebo por e-mail, tanto na internet como telefonando, replicando a meus interlocutores de modo a demonstrar as inconsistências daquilo que repassam. Existem sites muitos interessantes a respeito desses mitos divulgados pela Grande Rede, quando receber um e-mail suspeito pesquise as palavras-chaves no google e divirta-se!

Esse episódio me evidenciou a complexidade de fazer uma afirmação categórica com base em informações divulgadas pela mídia. Entretanto, parece-me que o relatado na reportagem não é uma notíca e sim um fato bastante factível considerando a declaração do diretor médico do hospital e talvez até o absurdo do comportamento desses residentes.

Não sou uma pessoa religiosa, ao menos não no sentido institucional da palavra, mas alguns trechos de Livros Sagrados contém "verdades práticas", "verdades objetivamente saudáveis" para a vida cotidiana independente se essa ou aquela instituição religiosa possui uma "verdade doutrinária".

"Quem achar sua vida perde-la-à; e quem perder a sua vida, por amor de mim, acha-la-à" (Mt 10:39)

Considerando que primeiro e maior mandamento de Jesus foi "amar ao próximo", então esse trecho do evangelho de Mateus é bastante interessante. Não que os 50 residentes de medicina da Universidade de Passo Fundo estejam condenados ao fogo do inferno, mas terão que viver à sombra de sua consciência por contribuirem para precarização do atendimento médico que lhes foi confiado através do conhecimento adquirido ao longo do ensino superior.

Falando em termos práticos, toda escolha profissional envolve uma ética, muitas vezes legalizada como é a ética médica, a quebra com esse compromisso deve resultar em punições igualmente legais. Só relembrando...

Juramento de Hipócrates - tradicional juramento feito por todos os fomando de Medicina.

"Eu juro, por Apolo, médico, por Esculápio, Higéia e Panacéia, e tomo por testemunhas todos os deuses e todas as deusas, cumprir, segundo meu poder e minha razão, a promessa que se segue: estimar, tanto quanto a meus pais, aquele que me ensinou esta arte; fazer vida comum e, se necessário for, com ele partilhar meus bens; ter seus filhos por meus próprios irmãos; ensinar-lhes esta arte, se eles tiverem necessidade de aprendê-la, sem remuneração e nem compromisso escrito; fazer participar dos preceitos, das lições e de todo o resto do ensino, meus filhos, os de meu mestre e os discípulos inscritos segundo os regulamentos da profissão, porém, só a estes.

Aplicarei os regimes para o bem do doente segundo o meu poder e entendimento, nunca para causar dano ou mal a alguém. A ninguém darei por comprazer, nem remédio mortal nem um conselho que induza a perda. Do mesmo modo não darei a nenhuma mulher uma substância abortiva.

Conservarei imaculada minha vida e minha arte.

Não praticarei a talha, mesmo sobre um calculoso confirmado; deixarei essa operação aos práticos que disso cuidam.

Em toda a casa, aí entrarei para o bem dos doentes, mantendo-me longe de todo o dano voluntário e de toda a sedução sobretudo longe dos prazeres do amor, com as mulheres ou com os homens livres ou escravizados.

Àquilo que no exercício ou fora do exercício da profissão e no convívio da sociedade, eu tiver visto ou ouvido, que não seja preciso divulgar, eu conservarei inteiramente secreto.

Se eu cumprir este juramento com fidelidade, que me seja dado gozar felizmente da vida e da minha profissão, honrado para sempre entre os homens; se eu dele me afastar ou infringir, o contrário aconteça."

Hipócrates

Autoria deconhecida
Fonte: http://pro.corbis.com/
Legenda: retrato de Hipócrates 460-370 a.C., famoso médico grego

Corram crianças porque ainda há tempo para fugir, ainda que não exista espaço...

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