Data: 21 de junho de 2009

Autoria Dave Gibbons/Alan Moore
Fonte: http://inspirationoflyric.files.wordpress.com
Legenda: Dr Manhattan, um dos heróis da renomada graphic novel de Alan Moore e Dave Gibbons, Watchmen
O artigo de meia página da geneticista e assessora de relações institucionais da FUNDEP (Fundação de Desenvolvimento da Pesquisa), Andrea Kauffman Zeh, está num dos melhores cadernos dominicais entre os jornais paulistanos, o "Aliás" do Estado de São Paulo.
A periodicidade do jornal não dá conta da análise de notícias sob uma perpectiva de médio e longo prazo, relegando essa função a outras publicações como revistas. A iniciativa dO Estado de São Paulo com o caderno "Aliás" é publicar artigos confeccionados por especialistas e jornalistas que dialoguem tanto com as notícias mais relevantes como com o formato jornalístico, tornando sua leitura ainda mais interesante; além de destinar espaços para as frases e imagens mais marcantes da semana, enquetes com os leitores, humor publicado semanalmente por Tutty Vasquez, destaque especial para a última página "Um retrato de..." contendo reportagens sempre muito interessantes como a do dia 21 de julho, "A Letra da Lei" sobre o juiz Márcio Moraes, que, novato à época, foi convocado para presidir a ação movida pela viúva de Vladimir Herzog contra o Estado. numa decisão inédita, Moraes responsabilizou o poder público pela morte do jornalista, atestando que sua prisão fora ilegal por não contar com ordem expedida por uma autoridade competente, além de invalidar o laudo atestando suicídio por não contar com a presença de dois peritos no momento da autópsia e valorizar os depoimentos dos jornalistas Rodolfo Konder e George Duque Estrada detidos no DOI-Codi juntamente com Herzog confirmavam que este fora torturado.
Polêmicas à parte, a afirmação do naturalista inglês é algo perturbadora: primeiro porque determina geneticamente a nobreza do caráter heróico; não que eu atribua a um deus a distribuição do caráter heróico entre os homens, mas também não possuo competência técnica para essa discussão, talvez uma mesa de bar na companhia de uma grande amiga leitora de Richard Dawkins pudesse me esclarecer. Segundo porque faz questionar quais características nos têm selecionado, considerando que o meio em que vivemos não são mais as inóspitas planícies africanas nas quais dividimos terreno com animais selvagens.
Refletindo me parece essencial imergir nossa cultura de início de século XXI: é possível afirmar que, apesar de boa parte dos países desenvolvidos do mundo apresentarem taxas de natalidade negativa, a perpetuação da espécie está ligada ao bem estar físico proporcionado pelo sucesso financeiro. Se esse sucesso é determinante, então a evolução têm selecionado aqueles que se adaptam a um sistema de consumo que privilegia características bastante discutíveis moral e eticamente como a exploração indiscriminada dos recursos naturais pela China sustentada por um discurso ideológico visando manter a coesão da cultura capitalista na qual vivemos.
Em determinado ponto de seu artigo, Andrea afirma que "a gêmea maligna" do heroísmo é a brutalidade, citando a filósofa alemã Hannah Arendt acompanhando o julgamento de Adolf Eichmann, um responsáveis pelo genocídio judaico na segunda guerra mundial. A esse propósito, a autora relata o experimento de Stanford, algo similar ao filme inspirado em fatos reais A Onda (do original The Wave) do diretor e documentarista norte-americano Alexander Grasshoff, filmado para a TV em 1981:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Experimento_de_aprisionamento_de_Stanford
Em inglês, mais completo e com maior número de referências:
http://en.wikipedia.org/wiki/Stanford_prison_experiment
Autoria reprodução
Por fim, entre as muitas questões que fica em aberto, uma das mais intrigantes é: se o heroísmo é antiproducente do ponto de vista biológico, em que medida a história da espécie humana não é determinada por atos heróicos como o sacrifício de Giordano Bruno na fogueira da Santa Inquisição por defender o heliocentrismo copernicano? Talvez quem determine o heroísmo não seja a ação do homem em si, mas o que oo outros homens fazem dessa ação, afinal, os papas, santos representantes da igreja católica, que convocaram o concílio de Trento para reorganizar a Santa Inquisição tinham como objetivo o heróico banimento dos hereges.

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