Carta aberta aos meus futuros ex-alunos - Para N.

Olá N.

Sei o quanto é estranho escrever-te uma carta em um blog, e ainda mais escrever-te particularmente uma carta que está publicada, mas não se iluda pequena, você ainda é muito jovem para compreender que algumas cartas simplesmente são escritas e nunca entregues para sobreviverem ao tempo, cartas são poesias que por alguns instantes escapam à coerência aleatória a que chamamos bom senso.

Quando finalmente me reconheci incapaz de conter minha necessidade em expressar-me através das letras criei esse blog, e dentro dele um espaço para escrever sobre todos vocês, meus futuros ex-alunos. Desde então, cada um de vocês me possibilitaram reflexões importantes sobre a prática educacional, porém, mais do que uma reflexão profissional, também vocês me possibilitaram reconhecer minhas responsabilidades enquanto ser humano pela formação de outros seres humanos.

Como você pode ver, pequena N., não se trata apenas de educar, mas de perpetuar a espécie humana em tudo que ela tem de mais importante, perpetuando senti-me pai de cada um de vocês, e como pai não pude deixar de ouvir-te quando me contou sobre as intenções de um rapaz mais velho. Talvez não pareça, mas já estou velho. Há algum tempo atrás, quando assim como você eu era jovem e por isso, invencível, esses dois anos que lhe separam do seu pretendente, pareciam toda uma vida, mas hoje eles escoam rapidamente pelas minhas mãos à medida que os vejo crescer com os bimestres escolares.

Não quero com essa carta lhe dizer o que fazer pequena N. , afinal, um dos sinais mais infelizes do envelhecimento é o velho crer que sua insignificante e minúscula experiência de vida é capaz de determinar a vida de outras pessoas, quando realmente o velho apenas deseja viver novamente através do jovem. Não pretendo que leia essa carta, muito menos que a entenda, mas gostaria que soubesse o quanto você é preciosa pequena N. e que como toda preciosidade pretendo, e espero que me aceite, cuidar de ti.

Beijos...


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