Data: 12 de outubro de 2009
Há algumas semanas iniciei uma postagem no qual pretendia discorrer aos meus futuros ex-alunos que acredito nunca lerão esse blog, sobre a relação entre trabalho e felicidade. Não pretendo esgotar esse assunto apenas com essa postagem, até porque minha abordagem era especificamente sobre meu ambiente profissional escolar bastante específico, mas coincidentemente três artigos sobre o tema foram publicados na última semana: dois no caderno de segunda-feira do The New York Times publicado pela Folha de São Paulo, a saber, "Empresa tenta lidar com onda de suicídio" (o qual considerei o mais adequado para o título da postagem) e "Paixão pelo trabalho? Bem, em alguns momentos", e um no caderno dominical "Mais" do mesmo jornal entitulado "Admirável Mundo Novo?".
O primeiro deles expõe como a degradação das relações de trabalho tem impactado numa das maiores empresas de comunicação da Europa, a francesa, a France Telécom, que conta hoje com um quadro de 102 mil funcionários. Desde fevereiro de 2008, vinte e quatro funcionários cometeram suicídio, além de mais de uma dúzia de tentativas fracassadas. Considerando a média de suicídios no país, 17,8 por cem mil habitantes (sendo que entre os homens são 26,4 e entre as mulheres 9,2) e a taxa de desemprego, 9,8% , a França parece representar uma nova ordem nada auspiciosa das relações de trabalho para o século XXI.
Esse fenômeno de suicídios evidenciam nã apenas
enfrentar o que o sociólogo Ricardo Antunes da UNICAMP, chamou no artigo "Admirável Mundo Novo?" de herdar as condições de trabalho do século XX, como que ignorando as possibilidades que a tecnologia introduz no ambiente profissional.
Autoria reproduçãoFonte: http://newsfinance.over-blog.com
Uma das variáveis importantes para se compreender essa nova ordem nas relações de trabalho do século XXI é a introdução da tecnologia no ambiente profissional. Uma leitura bastante interessante é explorada pelo sociólogo da UNICAMP, Ricardo Antunes, no artigo "Admirável Mundo Novo?": Antunes defende que, apesar da maior produtividade obtida com a aplicação da tecnologia ao ambiente de trabalho, segundo o autor, a tecnologia nos possibilitaria trabalhar apenas três ou quatro horas por dia para produzir e viver bem, somos herdeiros das condições de trabalho do século XX.
Essa condições subexistem através de uma grande demanda de trabalho apesar da revolução tecnológica, desdobrando de maneira plástica a exploração mão-de-obra através da mais-valia e a perpetuação de uma mentalidade capitalista. A expressão utilizada no título do último livro do sociólogo da UNICAMP serve perfeitamente ao momento "Infoproletário - degradação real do trabalho virtual".

Autoria reprodução
Fonte: http://reelclassics.com/
Legenda: cena clássica do filme de ficção científica "Metrópolis" (1927) do diretor alemão Fritz Lang, no qual o filho do patrão da maior empresa da cidade de Metrópolis ajuda um operário que tomba desacordado atrás de um relógio após um extenuante turno de trabalho.
Outra variável que pode até mesmo soar estranha aos ouvidos é o que a autora do ensaio "Paixão pelo trabalho? Bem, em alguns momentos", Alina Tugend, explora qual a relação entre felicidade e trabalho. Tugend procura a opinião de especialistas como Mihaly Csikszentmihalyi, diretor do Centro de Pesquisa de Qualidade de Vida da Universidade de Graduaçao de Claremont, que defende que a concretização da felicidade profissional está estritamente ligada a necessidade da sensação de fluxo (continuidade) e essa depende da sensação de controle pessoal e equilíbrio entre demanda e capacidade profissional. Já Peter Warr, autor de "The Joy of Work? Jobs, Hapiness and You" acredita que muitos fatores são determinantes para manter a alegria no trabalho, entre eles estão a supervisão positiva, segurança no emprego, possibilidade de promoção e tratamento justo.
Talvez fosse necessário mais do que algumas postagem para discorre sobre a relação do homem com o trabalho, desde da satisfação de necessidades primárias como alimento e moradia até a necessidade de consumo de bens como auto-afirmação. Talvez não se possa utilizar a mesma palavra para duas motivações tão absolutamente distintas, trabalhar deixou de ser um fim e tornou-se apenas um meio.

Nenhum comentário:
Postar um comentário