domingo, 6 de outubro de 2013

"Batatinha quando nasce..."

o que passou passou?

         Antigamente, se morri.
1907, digamos, aquilo sim
         é que era morrer.
Morria gente todo dia,
         e morria com muito prazer,
já que todo mundo sabia
         que o Juízo, afinal, viria,
e todo mundo ia renascer.
         Morria-se praticamente de tudo.
De doença, de parto, de tosse.
         E ainda se morria de amor,
como se amar morte fosse.
         Pra morrer, bastava um susto,
um lenço no vento, um suspiro pronto,
         lá se ia nosso defunto
para a terrados pés juntos.
         Dia de anos, casamento, batizado,
morrer era um tipo de festa
         uma das coisas da vida,
como ser ou não ser convidado.
         O escândalo era de praxe.
Mas os danos eram pequenos.
         Descansou. Partiu. Deus o tenha.
Sempre alguém tinha uma frase
         que deixava aquilo mais ou menos.
Tinha coisas que matavam na certa.
         Pepino com leite, vento encanado,
praga de velha e amor mal curado.
         Tinha coisas que tem que morrer,
tinha coisas que tem que matar.
         A honra, a terra e o sangue
mandou muita gente praquele lugar.

Paulo Leminski  

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