http://www.imdb.com/title/tt0361748/
Fonte: http://briandlast.wordpress.com/
Autoria reprodução
Juntamente com "Anticristo" de Lars Von Trier e "Budapeste" de Walter Carvalho, o western spaguetti de Quentin Tarantino, "Bastardos e Inglórios", está entre os melhores filmes que assisti este ano de 2009.
Basicamente "Bastardos e Inglórios" trata de vingança, como todos os filmes de Tarantino que conheço. Nesse caso, a vingança de judeus contra seus carrascos nazistas durante a segunda guerra mundial. Essa vingança acontece em duas frentes: a bela Shosshana (nome que em hebraico significa "rosa", interpretada por Mélanie Laurent) que teve os pais assassinados pelo coronel Hans Landa (a interpretação irretocável de Christoph Waltz lhe rendeu o prêmio de melhor ator no fetival de Cannes 2009), e o bando dos Bastardos Inglórios, um grupamento de soldados judeus comandado por tenente norte-americano Aldo "The Apache" Raine (interpretado brilhantemente por Brad Pitt) determinados a arrancar escalpos de nazistas no norte da França ocupada.
Porém, deixando a temática objetiva por um momento, a película do diretor estado-unidense trata basicamente sobre cinema.
Diferentemente das outras obras, o diretor não trata de cinema como arte através da peculiar violência pop tarantinesca, como a carnificina de "Kill Bill" quando a noiva (interpretada por Uma Thurman) finalmente encontra Bill (interpretado pelo inesquecível David Carradine) em um jardim japonês com chafarizes de sangue alinhados simetricamente a corpos decapitados, mas Tarantino busca uma nova estética da violência que se manifesta na menos na violência física e mais na violência cultural como na cena final em que Marcel (interpretado por Jacky Ido) utiliza películas clássicas para incendiar o cinema no qual os mais altos oficias nazistas, incluindo o füher, estão assistindo à estréia de gala do filme In Stolz der Nation, que retrata a batalha gloriosa de um soldado alemão contra os aliados guardando um campanário numa cidade ao norte da França.
Desse modo, Tarantino sugere ao espectador que confortavelmente senta numa poltrona de cinema para acompanhar seu último trabalho, que, assim como os carrascos nazistas também ele está assistindo a um filme reconstruindo o passado. Essa percepção de convergência entre a película e a experiência cinematográfica proporcionada pelo diretor me fez pensar se, como faz Marcel, também Tarantino e os "bandidos nazistas", demonizados pela história e pelo passado do qual o cinema é guardião, não pretendem trancar as portas do cinema aguardando o gran finale para incendiar a sala com 35 mm em busca de vingança contra os mocinhos judeus.
Se a história enquanto necessidade de compreeensão do passado foi escolhida por Tarantino para ambientar a trama, essa mesma história enquanto arte é violentada com fogo para encerrar a si mesma. Essa relação com a história seja ela memória, seja ela ideologia, seja ela arte, seja ela, conhecimento, é explorada de maneira bastante intreressante em se fazendo um leitura metalingüística de "bastardos e Inglórios". Particularidades que surgem para um historiador, também Abrahan Lincoln, cuja família era ligada à igreja protestante, mas possuia um nome judeu foi assassinado, não numa sala de cinema mas num teatro, e assim como boa parte dos nazistas que compareceram à estréia de In Stolz der Nation (curiosamente traduzido como "O Orgulho da Nação"), também foi morto a tiros.
Apesar da leitura metalingüística e minha impressão positiva como espectador, "Bastardos e Inglórios" também possui algumas inconsistências.
Enquanto desenrolam paralelamente, o enredo tem muita vitalidade, porém, quando finalmente as tramas da Shoshanna e do tenente Aldo Raine se encontram, e isso também se dá durante a estréia do filme, o enredo parece perder sua vitalidade, uma vez que o paralelismo parace não articular-se para o desfecho do filme. Do ponto de vista do enredo Tarantino foi capaz de produzir muitas personagens poderosas que poderiam desenvolver-se mais, tais como o sargento bastardo Donny Donowitz, conhecido como Bear Jew (interpretado por Eli Roth) por executar os prisioneiros com um taco de baseball a la Babe Ruth, ou o amante de Shoshanna, o negro francês vivendo na Paris ocupada, Marcel.
A despeito da maturidade na condução paciente do enredo através de diálogos que se desenvolvem com refinamento impressionante como a cena de abertura em que o coronel Hans Landa interroga o fazendeiro Perrier LaPadite (interpretado por Denis Menochet) acerca de famílias judias que viviam na região antes da ocupação nazista. A argumentação inteligente ainda que cuidadosamente enquadrada, resulta, e não redunda, em cenas um pouco lentas e longas ainda que necessárias e fundamentais do ponto de vista do enredo e também da estética.
Verdadeiramente, Tarantino não pode ser levado a sério, e nisso reside toda sua genialidade.

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