quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Democracia 1.7 (1) - Propaganda eleitoral gratuita

Apesar da importância da política nesse momento da história do nosso país, não pude evitar o jogo da semi-final da Libertadores da América entre São Paulo X Internacional e com isso perder parte do primeiro debate à presidencia da república entre José Serra, Dilma Roussef e Marina Silva na TV Bandeirantes. Se alguém disse certa vez na década de 70, em pleno regime da ditadura militar, que o Brasil é a pátria de chuteiras, após quarenta anos e com país vivendo uma democracia essa frase ainda é muito verdadeira.

Realmente não publiquei nenhuma postagem sobre o debate, nem à presidência e nem ao governo, mas pretendo me redimir escrevendo sobre o início da propaganda eleitoral gratuita essa terça-feira dia17 de agosto de 2010.

Me lembro quando era criança o quanto gostava do horário eleitoral. Ainda que não se tratasse realmente de um momento de afeto familiar, era o momento em que compartilhávamos uma paixão: a televisão. Imagino quanto meus pais se interessavam pelos debates diante das profundas transformações políticas do país com o fim da ditadura, a redemocratização, o impeachment do primeiro presidente eleito democraticamente depois de 64, mas para mim, os jingles como "Ey-ey-ey-mael", as promessas de campanha com o Aero-Trem (que mais tarde seria fraudado por Celso Pitta com o Fura-Fila e José Serra com o Expresso Tiradentes como lembrou o autor da ideia orioginal) e as velozes propagandas de incontáveis candidatos a vereador me lembravam video-games e desenhos animados japoneses como o Nintenditinho 8-bits que nunca tive e os Cavaleiros do Zodíaco.

Meus parâmetros para comparações mudaram muito desde minha infância, assistir ao horário eleitoral gratuito não me recorda os Cavaleiros do Zodíacos, mas tudo ainda parece um grande jogo.

No último domingo uma reportagem no jornal esclarecia qual a função da propaganda eleitoral gratuita (ou obrigatória como ainda se vê) e sua aplicação em outros países como distribuição do tempo destinado a cada país. No Brasil essa distribuição é bastante desigual, o que dificulta ainda mais o processo democrático e o debate político eleitoral. Esse tipo de comparação mostra claramente como a disparidade de tempo dedicado a cada candidato faz com que cada um adote uma estratégia diferente para que, em seu próprio tempo, consiga angariar algum tipo de simpatia do eleitorado a ponto deste se interessar em procurar maiores informações em redes sociais, uma grande ferramenta para a democratização.

Assim, a maior parte dos candidatos dedica seu tempo na TV para angariar a simpatia do eleitorado através das estratégias de marketing pessoal , tornado o tempo de debate político na TV em um show de horrores. Me contive para não desligar a televisão, pois senti uma enorme vergonha em participar de um processo eleitoral que promove debates políticos como o apresentado no horário eleitoral gratuito.

Por fim, um aparte para os candidatos que utilizam de sua popularidade em outros meios para tornarem-se os políticos que determinarão os destinos do nosso país como Batoré, Tiririca, Frank Aguiar, Mulher Pêra, Netinho de Paula, Ronaldo Esper, Kiko do KLB, Eli Correia Filho, o marido de Mara Maravilha, entre tantos outros. Acredito que o ser humano possui muitas habilidades, com muito treino desenvolvemos algumas delas, por isso não me parece completamente estranho que um humorista seja capaz de atuar programas humorísticos na TV e, além disso, desenvolver uma cultura política suficientemente consolidada para disputar um cargo público como vereador ou deputado estadual, porém, considerando suas campanhas na TV esses candidatos pretendem eleger-se pelo que são, como se jamais chegaressem a ser os dirigentes políticos do país como pretendem com suas campanhas, aliciando covardemente a ignorância de eleitores que não são capazes de distinguir o público do privado, como nos slogans do candidato Tiririca: "Vote em mim, quero ser o seu deputado federal. Você sabe o que faz um deputado federal? Não? Eu também não, mas vote em mim que eu te conto." ou "Vote em Tiririca. Pior que tá não fica."

Assim fica fácil entender porque a propagando eleitoral é gratuita, afinal, ninguém em sã consciência pagaria para assistir a esse show de horrores, e obrigatória, pois o show deve continuar...

"Por favor, me tira o tubo!"

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