Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2013/06/1299636-opiniao-nos-estamos-vivendo-o-resultado-de-uma-serie-de-paradoxos.shtml
Data: 22 de junho de 2013
Os comentários mais interessantes acerca das manifestações tem surgido de pessoas inesperadas como esse do humorista global Helio De La Peña no artigo publicado na Folha de São Paulo "Nós estamos vivendo o resultado de uma série de paradoxos" ou do colunista (certa vez escrevi cronista, crônica, errei!) também da Folha de São Paulo Vinícius Torres Freire ou mesmo o psicólogo Cristiano Nabuco que mantem um blog no portal UOL.
Entre poucos outros, esses são comentaristas preocupados em dar enfoques diferenciados às manifestações, fugindo aos comentários criticando a atuação da polícia, ou da mídia, ou dos manifestantes. Ainda assim, sinto falta de uma análise histórica acerca das manifestações, não apenas da história imediata como tem feito a grande mídia, estabelecendo comprações com os movimentos Diretas Já! ou Caras Pintadas, mas uma análise mais estrutural.
Há cerca de algumas semanas, presenciei na escola em que trabalho, durante minha aula, uma reprimenda de um grupo de coordenadores aos estudantes do 9o ano motivado pelo fato dos estudantes, sobretudo meninos, jogarem materiais de estudo de seus próprios de amigos pela janela, atingindo crianças menores do Ensino Fundamental I no piso inferior. A classe tinha até o meio da tarde para entregar os nomes dos responsáveis pelo ocorrido para a coordenadora, caso contrário, toda a classe seria responsabilizada e, portanto, penalizada.
Um garoto bastante educado e com ótimas notas de história, o modelo de estudante que todo professor gostaria de ter (e se tivesse, acharia extremamente tedioso dar aulas apra eles!), levantou a mão pedindo a palavra e afirmou que não sabia quem tinha iniciado a desordem, mas que ele tinha jogado o próprio material pela janela - "O próprio material?" - se espantou a coordenadora - "Sim" - disse ele, orgulhosamente, do alto dos seus 14anos de idade. O discurso rendeu riso entre os amigos e perplexidade entre os coordenadores.
Esse é apenas um relato de um fato ocorrido dentro de uma escola frequentada por crianças que fazem parte das famílias mais ricas da cidade de São Paulo e que reagem, não como membros da futura elite industrial e comercial paulistana, mas como seres humanos. Em seu blog, Cristiano Nabuco faz uma análise psicológica que adjetivaria como uma análise também sociológica e antropológica das manifestações na psotagem "Tarifa R$ 3,20: Aspectos psicológicos das manifestações" (para ler na íntegra clique aqui), a qual recorto um trecho: "Vamos então voltar à época em que o homem primitivo tinha que conviver com um ambiente bastante imprevisível e precisava assegurar continuadamente sua sobrevivência. Além de tentar buscar alimento, havia a necessidade de se proteger e ter de cuidar de ameaças contínuas como, por exemplo, enfrentar animais selvagens ou tribos inimigas. (...) Por conta deste ambiente extremamente hostil, o homem instintivamente percebeu que andar em bandos ou em grupos lhe conferiria maiores chances de sobrevivência. Assim, caçar com a ajuda de outros era mais fácil, além de ser mais eficaz; bem como buscar pessoas para se acasalar e buscar proteção. Desta forma, o grupo se tornou uma grande referência."
Fonte: https://en.wikipedia.org/wiki/File:Editorial_cartoon_depicting_Charles_Darwin_as_an_ape_%281871%29.jpg
Legenda: o próprio Darwin foi ironizado pela sua teoria da evolução das espécies na revista britânica The Hornet. Pouco se imaginava as consequencias políticas do que Darwin propôs...
Sob o aspecto antropológico, o homem viveu por muito tempo de sua história em função de grupos, como afirma o psicólogo, comparando o grupo à necessida de segurança e alimento "se formos usar uma metáfora métrica para entender esta jornada da falta de alimento desde o nosso aparecimento até os dias de hoje, teríamos percorrido cerca de “100 metros”. Entretanto, a comida farta apenas teria aparecido no “último centímetro” deste longo caminho." Em outras palavras, o sentido de grupo faz parte não apenas da nossa cultura, mas como do nosso processo de ominização ocorrido ao longo de milênios de evolução, durante o qual incorporamos outras tantas habilidades como a violência, também presente nas manifestações tanto por parte da maior parte da polícia como da menor parte dos manifestantes.
Não pretendo com isso afirmar que se deva atribuir a violência à natureza violenta do homem , mas como afirmou Boechat, existe uma legitimidade política e social para o uso da violência, e acrescento citando dr. Cristiano Nabuco, uma legitimidade psicológica e antropológica.
Foi a partir do reconhecimento que homens como Jean Jacques Rousseau e Thomas Hobbes refletiram ao durante o século XVIII sobre como reorganizar a sociedade política e socialmente através da razão, rompendo com o Antigo Regime que mantinha as massas sob uma autoridade consolidade através da religiosidade. Assim surgem as bases do Estado moderno, no qual a razão deve prevalecer pois somente o uso da racionalidade é medida compartilhada por todos os homens e, portanto, medida justa... Será? Talvez oa criar a antológica abertura de "2001: Uma Odiséia no Espaço" talvez se referisse a Hobbes e não ao homem paleolítico...
Como tradicionalmente tenho fechado, mais cartazes mostrando que se não ganharmos em política ganhamos em criatividade. Um comentarista excelente para todos os momentos é Zé Simão, o Macaco Simão, mas não escrito na Folha de São Paulo, mas na BandNews dialogando com Ricardo Boechat (clique aqui), ouça do dia 18 de junho: "Buemba! Simão elege as melhores cenas, cartazes e cantos das manifestações no Brasil" e explore! Valeu muito a pena!
Data: 22 de junho de 2013
Os comentários mais interessantes acerca das manifestações tem surgido de pessoas inesperadas como esse do humorista global Helio De La Peña no artigo publicado na Folha de São Paulo "Nós estamos vivendo o resultado de uma série de paradoxos" ou do colunista (certa vez escrevi cronista, crônica, errei!) também da Folha de São Paulo Vinícius Torres Freire ou mesmo o psicólogo Cristiano Nabuco que mantem um blog no portal UOL.
Entre poucos outros, esses são comentaristas preocupados em dar enfoques diferenciados às manifestações, fugindo aos comentários criticando a atuação da polícia, ou da mídia, ou dos manifestantes. Ainda assim, sinto falta de uma análise histórica acerca das manifestações, não apenas da história imediata como tem feito a grande mídia, estabelecendo comprações com os movimentos Diretas Já! ou Caras Pintadas, mas uma análise mais estrutural.
Há cerca de algumas semanas, presenciei na escola em que trabalho, durante minha aula, uma reprimenda de um grupo de coordenadores aos estudantes do 9o ano motivado pelo fato dos estudantes, sobretudo meninos, jogarem materiais de estudo de seus próprios de amigos pela janela, atingindo crianças menores do Ensino Fundamental I no piso inferior. A classe tinha até o meio da tarde para entregar os nomes dos responsáveis pelo ocorrido para a coordenadora, caso contrário, toda a classe seria responsabilizada e, portanto, penalizada.
Um garoto bastante educado e com ótimas notas de história, o modelo de estudante que todo professor gostaria de ter (e se tivesse, acharia extremamente tedioso dar aulas apra eles!), levantou a mão pedindo a palavra e afirmou que não sabia quem tinha iniciado a desordem, mas que ele tinha jogado o próprio material pela janela - "O próprio material?" - se espantou a coordenadora - "Sim" - disse ele, orgulhosamente, do alto dos seus 14anos de idade. O discurso rendeu riso entre os amigos e perplexidade entre os coordenadores.
Esse é apenas um relato de um fato ocorrido dentro de uma escola frequentada por crianças que fazem parte das famílias mais ricas da cidade de São Paulo e que reagem, não como membros da futura elite industrial e comercial paulistana, mas como seres humanos. Em seu blog, Cristiano Nabuco faz uma análise psicológica que adjetivaria como uma análise também sociológica e antropológica das manifestações na psotagem "Tarifa R$ 3,20: Aspectos psicológicos das manifestações" (para ler na íntegra clique aqui), a qual recorto um trecho: "Vamos então voltar à época em que o homem primitivo tinha que conviver com um ambiente bastante imprevisível e precisava assegurar continuadamente sua sobrevivência. Além de tentar buscar alimento, havia a necessidade de se proteger e ter de cuidar de ameaças contínuas como, por exemplo, enfrentar animais selvagens ou tribos inimigas. (...) Por conta deste ambiente extremamente hostil, o homem instintivamente percebeu que andar em bandos ou em grupos lhe conferiria maiores chances de sobrevivência. Assim, caçar com a ajuda de outros era mais fácil, além de ser mais eficaz; bem como buscar pessoas para se acasalar e buscar proteção. Desta forma, o grupo se tornou uma grande referência."
Fonte: https://en.wikipedia.org/wiki/File:Editorial_cartoon_depicting_Charles_Darwin_as_an_ape_%281871%29.jpg
Legenda: o próprio Darwin foi ironizado pela sua teoria da evolução das espécies na revista britânica The Hornet. Pouco se imaginava as consequencias políticas do que Darwin propôs...
Sob o aspecto antropológico, o homem viveu por muito tempo de sua história em função de grupos, como afirma o psicólogo, comparando o grupo à necessida de segurança e alimento "se formos usar uma metáfora métrica para entender esta jornada da falta de alimento desde o nosso aparecimento até os dias de hoje, teríamos percorrido cerca de “100 metros”. Entretanto, a comida farta apenas teria aparecido no “último centímetro” deste longo caminho." Em outras palavras, o sentido de grupo faz parte não apenas da nossa cultura, mas como do nosso processo de ominização ocorrido ao longo de milênios de evolução, durante o qual incorporamos outras tantas habilidades como a violência, também presente nas manifestações tanto por parte da maior parte da polícia como da menor parte dos manifestantes.
Não pretendo com isso afirmar que se deva atribuir a violência à natureza violenta do homem , mas como afirmou Boechat, existe uma legitimidade política e social para o uso da violência, e acrescento citando dr. Cristiano Nabuco, uma legitimidade psicológica e antropológica.
Foi a partir do reconhecimento que homens como Jean Jacques Rousseau e Thomas Hobbes refletiram ao durante o século XVIII sobre como reorganizar a sociedade política e socialmente através da razão, rompendo com o Antigo Regime que mantinha as massas sob uma autoridade consolidade através da religiosidade. Assim surgem as bases do Estado moderno, no qual a razão deve prevalecer pois somente o uso da racionalidade é medida compartilhada por todos os homens e, portanto, medida justa... Será? Talvez oa criar a antológica abertura de "2001: Uma Odiséia no Espaço" talvez se referisse a Hobbes e não ao homem paleolítico...
Como tradicionalmente tenho fechado, mais cartazes mostrando que se não ganharmos em política ganhamos em criatividade. Um comentarista excelente para todos os momentos é Zé Simão, o Macaco Simão, mas não escrito na Folha de São Paulo, mas na BandNews dialogando com Ricardo Boechat (clique aqui), ouça do dia 18 de junho: "Buemba! Simão elege as melhores cenas, cartazes e cantos das manifestações no Brasil" e explore! Valeu muito a pena!
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